“Literatura e Política – Jornalismo em tempos de guerra”, de George Orwell, lançado no fim do ano passado pela Jorge Zahar Editor, traz artigos políticos e resenhas de livros escritos por Orwell entre 1942 e 1948, para o jornal britânico The Observer.
A Segunda Grande Guerra estava a três anos do fim quando Orwell começou a escrever os artigos. A discussão sobre assuntos relativos a ela era, portanto, inevitável.
Tanto nos artigos quanto nas resenhas, Orwell não perde a oportunidade de fazer duras críticas à sociedade e à política da época. Aliás, é curioso o caso das resenhas, porque muitas vezes o que deveria ser uma resenha literária, termina sendo um belo e sensato artigo jornalístico.
Entre os autores resenhados por Orwell estão Joseph Conrad, Honoré de Balzac, T. S. Eliot e Dostoievski. Todos eles bem conhecidos do (bom) leitor brasileiro. Mas há também autores bem pouco – ou nada – conhecidos por aqui. E nesses textos é que temos boas surpresas, mesmo que não se conheça o livro resenhado. Como no texto “O dilema do escritor”, resenha do livro de ensaios “The Writer and Politics”, de George Woodcock. Orwell fala dele de tal forma que me leva a crer que o livro merece uma edição brasileira. Instigado por um dos ensaios, ele diz: “Em nossa própria época, um escritor sério não pode ignorar a política tal qual faria no século XIX. Os eventos políticos afetam-no muito intimamente, e ele tem plena consciência do fato de que seus pensamentos aparentemente individuais são um produto de seu ambiente social.”
Há também muito que aprender com os artigos políticos escritos por George Orwell. Neles, o que se vê é um homem ativo, muito bem informado e atento a tudo o que acontece ao seu redor. Orwell vai a diversas cidades da Europa ver com os próprios olhos os estragos provocados pela guerra.
George Orwell passou por Colônia, na Alemanha, e viu uma cidade “outrora famosa por suas igrejas românicas e pelos seus museus (…) submersa em um caos de paredes despedaçadas…”; foi até a Áustria e presenciou um caos maior ainda que na Alemanha devastada pelos ataques dos aliados; em Nuremberg, outra cidade alemã, Orwell encontrou uma população vivendo indiferente à guerra, mesmo em meio a bombardeios e combates. Paris foi a cidade que Orwell mais visitou e, pela quantidade de artigos que escreveu na capital francesa, a impressão que se tem é a de que era lá que ele conseguia grande parte das informações sobre a guerra.
Sempre fui muito interessado em História, mas nunca parei de verdade para estudar certas épocas ou acontecimentos. Ler os artigos de Orwell me fez perceber quanto tempo eu perdi com coisas que poderiam ter sido deixadas para depois. Fez também aumentar minha vontade de saber mais sobre História Contemporânea e política.
Em todos os seus textos, Orwell demonstra saber sobre o que escreve, demonstra ter estudado e colhido muitas informações. Se o leitor de “Literatura e Política” apreender ao menos essa lição, já está de bom tamanho. Há outras tantas coisas para aprender com os artigos e resenhas de George Orwell, sem dúvida. Mas isso já é uma questão muito pessoal de cada leitor. E isso é uma outra história…
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