* Texto publicado originalmente no blog do Digestivo Cultural
O primeiro cd do Gram é de uma qualidade impressionante. Tanto as letras quanto o instrumental se casam perfeitamente, culminando em uma harmonia vista em poucos cds. Uma outra qualidade desse primeiro cd é a coesão. Todas as músicas são boas, não há o que tirar nem pôr. Não se pula uma música sequer. Poucas são as bandas que conseguem fazer um disco assim.
Por ter 10 músicas, essa coesão é mais fácil de ser atingida. Agora, no calor do post, só lembro de outro cd assim, o There is nothing left to lose, do Foo Fighters, que tem 11 petardos, 11 obras primas, o melhor cd da banda e um dos melhores cds de rock de todos os tempos. Se o Foo quisesse, teria lançado 11 singles.
Mas o assunto aqui é o Gram. O segundo cd deles, Seu minuto, meu segundo.
Comprei o dual-disc (aliás, detestei essa tecnologia; digo depois o porquê) e demorei um pouco a ouvir. Assistir então, nem sei quando.
E quando eu ouvi, aconteceu o mesmo que aconteceu com o 4, do Los Hermanos. Primeiro, não gostei. Achei estranho. Cheguei a pensar em “dinheiro jogado fora”. Mas não. Bastou uma segunda audição, mais tranquila que a primeira – que foi interrompida na música 7 – para perceber que esse segundo cd da banda é um excelente disco.
Com 12 músicas, e notavelmente mais complexo que o primeiro, “Seu minuto, meu segundo” é um álbum também coeso, mas não tanto quando seu irmão mais novo. A diferença maior, que eu percebi, do primeiro para o segundo álbum foi nas letras. Enquanto que no primeiro algumas letras eram verdadeiras metáforas para o que quer que o ouvinte quisesse, o segundo também é recheado de metáforas, mas bem mais, mil vezes mais, subjetivas. Às vezes pode não parecer, mas é, como nos seguintes versos da primeira música, “O rei do sol”: “Depois do sol/ depois do sol é frio/ depois do sol é frio// O rei do sol/ o rei do sol é frio// Quem é seu rei?/ quem é você?/ que explora o sol mas é tão frio”.
“Lupado” tem uma letra mais simples: “Quem acordo amanhã?/ Depende se eu me sonho mal/ quem não durmo amanhã?/ deve estar me sonhando acordado/ se fiquei pra depois, me sei um pouco mais/ nesse retrato sou eu, mas quem me era?”. Lembra até as letras do Amarante, dos Hermanos.
E por aí vai. Não sou especialista em nada, muito menos em música, não vou ficar aqui analisando letra por letra.
Senti que as guitarras nesse disco estão mais bem elaboradas. Não que no primeiro elas não fossem. Mas nesse segundo me parece que houve uma evolução, e não apenas a repetição de uma fórmula. Repetição realmente não houve, pois o disco é muito diferente do primeiro.
Dizer qual o melhor dos dois é difícil. Ambos são bons. Muito bons, mesmo. Posso dizer que o primeiro é mais “pop”, e esse segundo é um tanto mais “alternativo”. O que é uma pena, porque eu pensei que o segundo disco seria o estouro do Gram. Infelizmente, a massa não gosta desse tipo de música – a boa música, a música que vale a pena – e a banda paulista deve continuar mesmo com seu fiel grupo de fãs, como aconteceu com o Los Hermanos, na virada do primeiro cd para o “Bloco do eu sozinho”.
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