Fala sério, ministro…

Os políticos não cansam de me surpreender. Desta vez foi o ministro da educação, com essa proposta ridícula de mudança no vestibular – ele quer substituir o tradicional pelo ENEM, com a justificativa de que isso traria melhoras ao ensino médio.

A burrice já começa por aí. Já que ele quer melhorar o ensino médio, por que não começar justamente pelo ensino médio? Vai começar pelo ingresso na faculdade? Que pensamento de asno é este?

Um dos argumentos dele é que “apenas 0,04% dos estudantes matriculados no primeiro ano do ensino superior têm origem em estado diferente da unidade da federação onde estudam. ‘Nos Estados Unidos, 20% dos alunos são oriundos de estados diferentes de onde cursam a universidade’, comparou.” Será que ele não pensou na possibilidade de os alunos não terem dinheiro pra mudar de estado?

Deixei de prestar vestibular na UFS (Universidade Federal de Sergipe) porque simplesmente minha família não tinha grana pra me manter lá. Certo, eu poderia arrumar um emprego depois. Mas, no começo da mudança, um bom dinheiro seria gasto, e eu não fui lá fazer a prova. Casos como o meu certamente tem por aí aos montes. Conheço uma porção de gente que deseja fazer algum curso na UFBA e não vai lá fazer porque não teria condições de se bancar em Salvador e, claro, bancar o curso. Porque, como vocês todos sabem, mesmo você fazendo faculdade pública você gasta. Se pouco ou muito, vai depender do curso. Mas que gasta, gasta.

O MEC deveria estar preocupado em formar melhor os professores, em dar estrutura digna às escolas, em cuidar para que o dinheiro da merenda dos alunos não seja desviado para contas particulares em paraísos fiscais. Estas deveriam ser as preocupações do MEC. Mas não. O cara sai da cadeira dele pra dizer que os cursinhos pré-vestibulares são uma “anomalia brasileira”. Falem o que quiser contra os cursinhos, mas ao menos eles estão empregando e pagando razoavelmente bem professores que receberiam miséria se fossem depender do MEC. Depois disso, aí, sim, ele pode querer mudar o vestibular.

Ah, e só pra lembrar, os cursinhos realmente preparam os jovens para passar nos vestibulares por aí. Claro que não fazem milagres, o aluno tem que se esforçar. Mas cursinhos ajudam bastante quem é interessado e tem dedicação. E, só pra lembrar também, tem bastante aluno de escola pública que faz cursinho. Por quê, ein? O ministro da educação poderia falar sobre isso, né?

Político é assim. Em vez de se preocupar com o que realmente importa, fica inventando porcaria pra desviar o foco do assunto principal. O que tem de professor sendo xingado e ameaçado por aluno na rede pública não tá no gibi. Por que não se ater a isso? Por que não resolver os problemas realmente graves e básicos, que atrapalham o andamento e a melhoria da educação neste país? Por que não fazer alguma coisa, em vez de ficar propondo bizarrices como essas?

Uma proposta dessas é absurda, frente aos problemas que a educação brasileira tem. Essa é a minha revolta.

P.S.: Detalhe: o ministro da educação é graduado em… DIREITO! E é mestre em… ECONOMIA! Ele é doutor em… FILOSOFIA! O cara não é da área de educação! Este governo é uma palhaçada sem fim. Balzac ficaria envergonhado da sua Comédia Humana. A Comédia Humana é o governo federal brasileiro.

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