Da simplicidade

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Uma das respostas mais conhecidas para a pergunta “por que a literatura brasileira não vende?” é a seguinte: escritores brasileiros exageram um pouco nas invencionices linguísticas em seus livros. Ou, de forma resumida, a resposta seria “porque literatura brasileira é chata”. E o “chata” pode ser trocada por “complicada”, “maçante”, “hermética” e similares.

É até uma generalização injusta, e não é, nem de longe, minha opinião. Procuro ler autores brasileiros sempre, intercalando com estrangeiros, mas dando preferência aos autores nacionais. Agora, por exemplo, na minha fila de leitura estão os novos livros de Mayrant Gallo, Humberto Werneck, Ronaldo Correia de Brito e Leonardo Brasiliense, só para ficar em quatro nomes.

Há bons – muito bons, diga-se – escritores que conseguem aliar leveza textual a narrativas interessantes e profundas, aquela coisa mesmo de “análise da condição humana”, sabe? São autores de livros que são lidos de maneira quase frenética, empolgante. Mas, infeliz e paradoxalmente, apesar de injusta, a tal generalização faz sentido.

Porque, a menos que eu esteja muito enganado, o número de livros cuja linguagem é recheada de pompa e pedantismo é bem maior do que o de obras “leves”. Aliás, é melhor trocar o “leves” por “simples”.

Isso tem contaminado não apenas autores de ficção, mas também jornalistas e críticos literários que escrevem resenhas de livros para jornais, revistas e mesmo veículos virtuais. Parece que é uma disputa para saber quem tem mais conhecimento teórico de literatura e quem mais consegue se aproximar da linguagem jornalística do começo do século XX.

Pense bem: você é um arquiteto que gosta de ler. Num belo dia de sábado, você abre o caderno de literatura do seu jornal predileto e começa a ler as resenhas. Cada uma delas se refere a livros que você não leu, autores que você não conhece e, a cada parágrafo, você precisa consultar duas vezes o dicionário. Confesse: você vai procurar o tal livro na livraria? Melhor: você vai terminar de ler a resenha?

Entenda: não estou aqui pregando um desmatamento vocabular. Gosto bastante de conhecer palavras novas, e mais ainda de ler textos bem escritos. Mas uma coisa é um autor utilizar aqui e ali construções um pouco mais complexas, palavras e termos desconhecidos, outra coisa é isso ser feito a todo o momento, de uma forma que beira à mera satisfação em se mostrar culto, inteligente etc.

Preciso confessar que não sou afeito a academicismos. É lógico que é preciso ter conhecimento e embasamento teórico, fazer leituras técnicas etc., coisa que já fiz e continuo fazendo, mas, na minha opinião, acho desnecessário escrever como um professor de 200 anos de idade. Acredito que, com o bom momento editorial que estamos vivendo, seria bem mais produtivo escrever textos mais simples – notem que agora me refiro aos críticos e resenhistas -, pensando um pouco mais – só um pouquinho, não custa nada – naqueles leitores de fim de semana.

Pessoas que não conhecem determinado autor ucraniano que recebeu o prêmio Ribombeta de Ouro por aquele romance genial publicado no final do século XIX, por exemplo. Pessoas que têm menos de 100 anos de idade. Pessoas que até gostariam de ler determinado livro, mas desistem depois de ler – ah, peço desculpas: depois de não ler – uma resenha chata e modorrenta justamente num dia de sábado.

Aproveito para deixar aqui o trecho de uma entrevista realizada durante o I Encontro Internacional Conexões Itaú Cultural com Luciana Villas-Boas, editora da Record. Ela fala um pouco sobre essa questão da simplicidade/complexidade da literatura brasileira. (Caso o vídeo não carregue abaixo, clique aqui e assista.)

* Imagem enviada por Naira Louise.

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