“Vale quanto pesa”, de Luiz Melodia, é a sexta canção do disco (“Quanto você paga pra me ver sofrer/ E quanto você força pra me derreter/ Sou forte feito cobra coral/ Semente brota em qualquer local”). Mais acústica e suingada, ela retoma o caminho do disco, desviado por “Só as mães são felizes”. O piano, responsável pela levada marota da música (um mambo?), é o destaque, juntamente com o sempre excelente naipe de metais.
A sétima canção é “Perdidos na selva”, de Julio Barroso (“Eu e minha gata/ Rolando na relva/ Rolava de tudo”). Ela tem uma guitarra pesada e classuda, que compensa a letra um tanto quanto boba – debochada, melhor dizendo – mas divertida. De todas, é a que menos gosto, mas não a ponto de pular a faixa. É o tipo de música feita para lembrar que não podemos nos levar a sério o tempo inteiro.
Como que para compensar o deboche, “Amor, meu grande amor”, de Ângela Ro Ro e Ana Terra, vem a seguir (“Amor, meu grande amor/ Não chegue na hora marcada/ Assim como as canções/ Como as paixões e as palavras”). Fica até difícil falar sobre uma canção cuja letra é tão bela, simples e ao mesmo tempo profunda, e que ganhou um arranjo absolutamente perfeito da banda, além de uma interpretação magistral na voz de Frejat. O órgão ao fundo, a guitarra quase delicada, respeitosa, o surpreendente bandolim em uma curta aparição, o baixo marcando o compasso, a bateria e o violão discretos porém firmes, enfim, tudo em perfeita harmonia. Uma das mais belas músicas executadas pelo Barão Vermelho em toda a carreira da banda.
A temperatura do disco volta a subir com “Não há dinheiro que pague”, de Roberto Barros (“Sofrendo foi que aprendi/ Que não há dinheiro no mundo/ Que me pague a saudade de você”). Ainda que não seja um rock puro sangue – porque ela pende mais para o pop-rock -, é uma música vibrante, principalmente por conta do já muito elogiado naipe de metais.
Mas se o ouvinte queria novamente ouvir um rock vigoroso, com um quê da década de sessenta, a décima faixa é “Jardins da babilônia”, de Rita Lee e Lee Marucci (“Minha saúde não é de ferro não/ Mas meus nervos são de aço/ Pra pedir silêncio, eu berro/ Pra fazer barulho eu mesmo faço”). Novamente o piano se apresenta de maneira digna de nota, juntamente com a guitarra. Mas é preciso também ressaltar a bateria, que, se não é um exemplo de rapidez malabarística, chama a atenção especialmente nesta música pela sua correção e vigor.
“Um índio”, de Caetano Veloso, a faixa mais duradoura do disco, com 5 minutos e 20 segundos, encerra o disco com chave de ouro (para utilizar uma das expressões listadas pelo jornalista Humberto Werneck em seu dicionário de frases feitas, “O pai dos burros”). Além de o arranjo e de a execução serem mais uma prova de que o Barão Vermelho é talvez a melhor banda de rock brasileira de todos os tempos, a letra de “Um índio” faz lembrar – será que é preciso? – o quão talentoso é Caetano Veloso.
“Álbum” acabou sendo o disco mais vendido do Barão, segundo o já citado livro “Barão Vermelho – Por que a gente é assim”. E, apesar de não haver nele nenhuma música inédita, pode-se dizer que “Álbum” foi o ápice criativo do grupo, instrumentalmente falando. Hoje o Barão Vermelho está de “férias” – o último disco de inéditas foi lançado em 2004. Fica a torcida para que a banda não prolongue essa pausa por muito tempo.
* Post escrito ouvindo – seguidas vezes – “Álbum”, é claro.
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