A Origem

Christopher Nolan é o diretor e roteirista do talvez melhor filme de Batman até o momento (“The Dark Knight”). O que não é pouca coisa, visto que ele “concorre” diretamente com Tim Burton, que dirigiu duas produções do homem-morcego.

Mas Nolan ganhou visibilidade muito antes disso, com o filme “Amnésia”, de 2000. O filme chamou a atenção pela estrutura não-cronológica, uma escolha que tem tudo a ver com a história do personagem, cuja memória é completamente fragmentada. Suas lembranças recentes são constantemente apagas e, para saber fatos sobre si mesmo e sobre o que lhe aconteceu, ele faz anotações no próprio corpo.

Apesar de jovem – ele fez 40 anos de idade no último 30 de julho -, Christopher Nolan se estabeleceu como um dos melhores diretores e roteiristas do cinema contemporâneo. Portanto, a repercussão de seu mais novo filme, “A Origem” (“Inception”, no original), não é coisa do acaso.

“A Origem” tem um roteiro que poderia ser classificado como complexo, mas não é o caso. Pode-se dizer que tem uma trama repleta de camadas, ou de níveis, para usar um termo bastante utilizado no filme, mas nada que dificulte o entendimento da história.

Em “A Origem” Nolan cria um mundo no qual é possível entrar nos sonhos das pessoas e coletar deles informações que estão em seus inconscientes. Leonardo DiCaprio, a cada filme provando que é um excelente ator, é o protagonista da história. O nome do seu personagem é Cobb e ele é um “extrator”, a pessoa que entra no sonho e de lá retira as informações que precisa.

Mas o filme gira em torno do procedimento contrário: uma inserção – ou uma “germinação”, no sentido de “plantar” uma ideia – no inconsciente, procedimento perigoso de ser feito e visto por pessoas que trabalham com o personagem principal como impossível de ser realizado. Esta missão é aceita por Cobb pelo seguinte motivo: quem o contrata tem os contatos necessários para permiti-lo voltar para casa e reencontrar os filhos. Ele precisou abandoná-los por um motivo que só é revelado perto do final do filme.

À medida que Cobb reúne uma equipe (composta por Joseph Gordon-Levitt, Tom Hardy, Ellen Page e outros) para viabilizar a realização da missão e começa a colocá-la em prática, o filme ganha contornos dos mais variados. Além da ficção científica e da ação ocasionada pela dificuldade em executar a tarefa de inserção, podemos levantar questões éticas sobre possíveis manipulações intelectuais, ou mesmo sobre o que é realidade e o que é sonho – na nossa realidade (?).

Quem assistiu a filmes como “Matrix”, “Minority Report”, “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” e “Vanilla Sky” vai reconhecer e lembrar de vários desses contornos. E apesar de o tema “realidade X sonho” ter sido – e ainda ser – bem explorado pelo cinema, “A Origem” consegue ainda assim ser original e impactante. Quem se deixar levar pela história muito provavelmente sairá desnorteado do cinema. Principalmente por culpa dos minutos finais do filme.

Mas, no fundo, no fundo, “A Origem” é um filme sobre uma das coisas mais básicas da humanidade, algo pisado e repisado em músicas, livros e filmes, mas que nunca se esgota. “A Origem” é sobre um homem que deseja voltar para casa. O restante – metáforas, efeitos visuais extraordinários, roteiro brilhante, trama absolutamente sedutora e elenco competentíssimo – pode ser chamado de “acessórios de luxo”.

* Post escrito ao som de “Amnesiac“.

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