Ao trabalhar com atendimento ao cliente – ao vivo e a cores, e não em callcenters – você corre o risco de “criar laços”, vínculos. Existem clientes que só querem ser atendidos por determinado atendente, e esperam horas, se for o caso. Ou retornam no dia seguinte, se o tal atendente estiver de folga. Não que isso seja ruim, nunca é. Ontem mesmo, um cliente que atendi no final de 2007 veio falar comigo, já com meu nome na ponta da língua. Eu sinceramente não lembrava o dele. Lembrei da fisionomia e da personalidade, um senhor bem espirituoso, de alma jovem. Sua esposa me contou que, algumas horas antes, ele estava assistindo o Chaves, vejam só.
Mas acontece que, como eu disse, corre-se o risco de criar laços afetivos, inclusive. De tanto atender alguém, você pode até fazer uma amizade. E hoje eu soube que um cliente “meu” – digo isso porque fui eu quem fez o cartão dele, ele sempre me procurava pra aumentar o limite e também fui eu quem abriu sua conta – faleceu. Quem me deu a notícia foi a esposa dele, ainda atordoada com o fato recente, óbvio. Ele faleceu por conta de um acidente de carro há pouco mais de uma semana.
Pouco antes de eu sair de férias, conversamos um pouco e contei pra ele que eu estava prestes a sair do emprego e tal. Meu intuito era o de avisar que, se ele precisasse novamente de alguma coisa relacionada a seu cartão, procurasse determinadas colegas minhas que têm uma maior paciência e cuidado no atendimento (infelizmente nem todos os meus colegas atendem bem aos clientes). Ele então me perguntou por que eu iria sair, o que eu iria fazer, essas coisas. E pediu também meu telefone de contato e me deu o dele, para que a gente pudesse se encontrar depois.
Seria, talvez, mais um amigo que a vida me daria. Infelizmente, não saberemos o fim do “talvez”.