Uma cerveja com Obama

– Ih, galera, ó quem tá chegando ali…

– Putz, fala sério! O cara veio mesmo!

Barack Obama, muito sério e sob forte escolta, caminhava em direção aos seus novos amigos, que o esperavam numa mesa de bar. O ar grave de seu rosto não condizia com aquele encontro agendado há meses. O combinado era “tomar uma” e esquecer, por alguns minutos, os problemas dos EUA e do resto do mundo. Obama já era esperado há bem uns trinta minutos, e alguns dos presentes já não acreditavam que ele comparecesse. Mas ele veio.

– Falaê, Russeín! – “Russeín” é o apelido de Obama entre os amigos.

– Alô, pessoal, como vão? – disse Obama, ao mesmo tempo em que ia cumprimentando a todos. Diferente do encontro anterior, ele não fez a brincadeira do “passa o cartão e digita a senha”. Os cumprimentos foram solenes, diplomáticos. Aquela seriedade finalmente foi percebida pelos amigos, que de repente se demonstraram apreensivos, preocupados.

– Que que houve, Obama? Cê tá sério, rapaz. Contaí!

– Caras, me desculpem. Não poderei ficar muito tempo com vocês. Algo terrível está para acontecer, por isso me atrasei.

– Putz! Que que houve, Obama? Fala logo!

Obama respirou fundo, tomou um gole da cerveja que lhe havia sido servida, respirou fundo de novo, olhou ao seu redor, pediu para os amigos se aproximarem do centro da mesa e falou:

– Por favor, não contem a ninguém o que vou lhes dizer agora, mas os Estados Unidos acabou de sofrer um ataque. Nosso espaço aéreo está fechado e nem mesmo eu posso voltar para lá agora, porque nosso pessoal teme não estar detectando aviões inimigos se aproximando de Washington. Daqui a 30 minutos estarei partindo para o Canadá e é muito provável que uma guerra esteja por começar.

As faces dos rapazes rapidamente traduziram seus sentimentos: o pânico estava prestes a dominá-los, mas eles não poderiam se exaltar, afinal, todos os olhares do bar estavam dirigidos para aquela mesa. Sendo o mais discreto possível, um deles falou:

– Peraí, Obama, peraí. Cê não tá falando sério, tá? Puta que pariu!

Obama estava ainda mais sério do que antes. Tamborilando a mesa, disse:

– Você acha que eu iria brincar com uma coisa dessas? Você sabe o que é isto aqui? – Ele levantou um pouco a maleta que estava carregando e da qual só agora eles se davam conta. – Vocês sabem o que é isto aqui, certo?

Todos sabiam. Era a famosa pasta de guerra de Obama. Dentro dela, uma série de documentos e algumas ferramentas eletrônicas. Entre elas, o famoso botão vermelho.

– Caras, basta um telefonema. Um telefonema só e eu uso o botão.

Todos se entreolharam. Obama estava mesmo falando sério. Neste momento, o celular de Obama tocou. Ele atendeu.

– Ok, John, ok, eu entendo. Sim, agora. Já!

Obama colocou a maleta sobre a mesa, abriu-a e disse aos seus amigos:

– Caras, desculpem ter de fazer isso aqui, na frente de vocês.

Feito estátuas estavam, feito estátuas continuaram. Obama estava prestes a apertar o botão. O mundo iria entrar em guerra.

Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho de nariz sendo assoado. Como se estivessem sonhando, despertaram, e viram Obama assoando o nariz mais uma vez.

– Desculpem, caras, sei que é falta de educação, mas estou meio gripado. – Depois disso, gargalhou.

Os amigos ainda estavam sob efeito das declarações anteriores. Mas ao verem que Obama não parava de gargalhar e que ele já havia fechado a maleta, “acordaram”.

– Porra, Obama! Tá de sacanagem?

Obama mal podia se conter, e entre gargalhadas e batidas na mesa, dizia:

– Vocês precisavam ver a cara de vocês! – Mais gargalhadas.

– Caraca, Obama! Não brinca com isso, cara, não brinca, pelo amor de Deus!

Obama continuava rindo.

– Ai, ai, minha barriga tá doendo! – E ria mais ainda, o peralta do Obama.

***

Esse é o Obama.

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