Passando aqui rapidinho, só pra deixar estes dois pequenos trechos de dois artigos de “Textos de intervenção“, de Antonio Candido.
“Contaram-me que Vuillermoz, crítico musical francês, nega-se terminantemente a conhecer as pessoas dos seus criticados ou criticandos. Com efeito, o contato pessoal dá, às vezes, uma direção nova às nossas idéias sobre um autor, e, sobretudo, torna-se difícil a isenção de ânimo que deve ser a qualidade básica da nossa ética profissional. Por isto, o caso extremo de Vuillermoz tem uma significação muito grande, muito larga, para quem se ocupado do ofício de criticar. Ele ilustra o que se poderia chamar a ascese do crítico, a sua atitude antes rígida que diz um “não” terminante a qualquer veleidade de se derramar em simpatias pessoais e compadrismos literários; de quem prefere o isolamento e a perda de muita comodidade ao que lhe poderia parecer uma traição ao seu dever de dizer as coisas retamente. E de quem, por outro lado, sofreia a antiptia e, mesmo, a inimizade, em proveito desta retidão de espítrito. Só assim lhe será possível ter forças para exercer a sua missão – que é o dever de nada enunciar que não seja única e exclusivamente aquilo que lhe parece a verdade. Nesta seção, que hoje assumo, não será outra a norma de conduta. Se nem sempre é possível dizer tudo aquilo que se pensa, é sempre possível dizer apenas aquilo que se pensa. E é o que farei.”
“Criticar é apreciar; apreciar é discernir; discernir é ter gosto; ter gosto é ser dotado de intuição literária.”