Tardes com anões


Foi lançado, na última sexta-feira (14/10), o livro “Tardes com anões” (Vento Leste, 2011), coletânea de minicontos dos autores baianos Carlos Barbosa, Elieser César, Igor Rossini, Lidiane Nunes, Mayrant Gallo, Rafael Rodrigues (eu!) e Thiago Lins.

O lançamento aconteceu durante a primeira edição da Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), que terminou ontem (16/10).

Os sete anões – digo, autores – participaram de uma animada conversa sobre minicontos, e cada um falou um pouco sobre suas experiências como escritores, além de fazer a leitura de algumas das histórias publicadas na coletânea.

O bate-papo foi mediado pela professora, fotógrafa, produtora editorial e também organizadora das “Tardes com anões” Gal Meirelles, mais conhecida agora pelo codinome “Branca de Neve”.

Da esquerda para a direita: Igor Rossoni, eu, Carlos Barbosa, Mayrant Gallo, Lidiane Nunes, Thiago Lins e Elieser César.

O livrinho pode ser adquirido por módicos R$ 9,50 (R$ 5,00 do livro + R$ 4,50 da postagem), através dos e-mails m.gallo@ig.com.br e galmeirellesc@yahoo.com.br.

Deixo para vocês uma prévia do livro, que é muito bacana: um miniconto de cada autor.

Carlos Barbosa
“Para dizer que te amo (I)”

Para dizer que te amo, lavo a cueca no banho e a deixo secar ali mesmo no box.

Para dizer que te amo, nesta barulhenta Bahia, ouço Rachmaninoff, e em Bizet o que há de menos popular.

Para dizer que te amo, durmo só.

E para, inquestionavelmente, dizer que te amo, irei trabalhar no interior do Amapá.

Elieser César
“Interpretação dos sonhos”

Capistrano sonhou com uma cobra.
Jogou no bicho.
Deu macaco.
Jogou de novo.
Deu burro.
Insistiu no jogo.
Deu peru.
Ainda apostou.
Deu elefante.
Tentou mais uma vez.
Deu águia.
Foi passear na roça.
Deu cobra.

Igor Rossoni
“Descanso”

Trocara fronha e lençóis. Menos o pai, que depois de tudo no alvejo, recuperou posição de costume.

Lidiane Nunes
“Ferida”

Como uma borboleta que acaba de sair do casulo, descobre que pode voar e tem as asas arrancadas por um menino cruel que sente prazer em brincar de Deus. Assim eu me sinto.

Mayrant Gallo
“O acontecimento”

Um homem vinha pela estrada. Parou para pedir carona. Um carro passou direto, passaram dois, três, quatro. O homem voltou a andar. E ainda está andando. Sem saber que já não existem carros no mundo, e que não há mundo, e que ele é o único ser vivo sobre a face da Terra.

Rafael Rodrigues
“Previsão”

Uma cigana leu sua mão. Matou-se ao fim do dia.

Thiago Lins
“Quietude”

Uma quietude tomara conta do lugar. Aos poucos, as pessoas entravam e se aproximavam de mamãe. Estendiam os braços, e ela, um tanto trêmula, fazia o mesmo.

Enquanto os cumprimentos se sucediam, encaminhei-me até papai. Ele estava bem vestido. O caixão, bem ornamentado.

Mamãe continuava a receber cumprimentos. E em meio à quietude que tomara conta do lugar, papai soltou um longo suspiro de insatisfação.

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