Sobre escrever um romance

Engana-se quem pensa que escrever um romance é coisa fácil de se fazer. Não basta ter uma boa ideia, sentar na cadeira e escrever. É preciso muito trabalho, bastante disciplina e uma dose cavalar de paciência.

Porque às vezes acontece de você ter a grande ideia, sentar na cadeira diante do computador ou com uma caneta e um caderno em mãos, e começar a escrevê-la. Mas à medida que você vai desenvolvendo a história, você começa a perceber que há alguns furos. Depois nota que determinado personagem não tem, vamos ser sinceros, serventia alguma, e precisa eliminá-lo. Mas ele interagiu com outros personagens, falando algumas bobagens, e aí você precisa reescrever tudo.

Mas o pior não é isso. O pior é quando você precisa mudar a voz da narrativa. Um exemplo: você começou a escrever sua história em primeira pessoa (“Eu acordei de manhã, calcei as sandálias e blablabla”). Mas em determinado ponto você quer dizer alguma coisa, mas essa coisa não pode ser dita pelo narrador, porque ele não sabe que tal coisa aconteceu. Então você precisa meter um narrador onisciente no meio, porque seu protagonista não sabe de tudo, ele está narrando os fatos à medida que eles vão acontecendo. E aí, das duas uma: ou você muda tudo desde o início, ou começa a intercalar as falas do seu protagonista com capítulos narrados pelo tal onisciente. Tá, não é o pior de tudo, mas dá um trabalho dos diabos.

O pior, na verdade, é quando acontece o seguinte: certo dia você senta para continuar a história e simplesmente nada vem à sua mente. Você fica parado olhando para o documento em branco do Word ou para a folha de caderno vazia durante meia hora e nada acontece. Mas aí você começa a pensar em outras coisas e, de repente, um lampejo. Você começa a digitar ou escrever freneticamente. Em poucos minutos você tem três páginas do Word com o começo de uma outra história. Algo totalmente diferente do que você vinha trabalhando.

No dia seguinte, você volta a tentar escrever, continuar qualquer uma das duas histórias, mas está travado (ou travada), e não consegue progresso algum.

Meses se passam, você sempre pensando naqueles materiais que tem guardado. Num belo dia, andando pela sua cidade, você vê uma coisa acontecendo ou alguém que conheceu há algum tempo e então acontece. Você consegue ligar as duas histórias. Desde o começo elas tinham uma ligação, mas você não havia percebido. Será um tanto trabalhoso uni-las, porque certas arestas precisarão ser aparadas e você precisará abrir mão de certos fatos da vida do seu protagonista.

Mas isso não importa. Você tem um romance em mãos. E você vai escrevê-lo.

Boa sorte.

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