Seis anos sem Fernando Sabino

Fernando Sabino, um dos maiores escritores brasileiros do século passado, faleceu no dia 11 de outubro de 2004, um dia antes de completar 81 anos. Em outubro de 2009 coloquei na internet um blog para homenagear o escritor que tanto admiro, como forma também de marcar os cinco anos de sua morte. Reproduzo abaixo, fazendo pequenas correções e mínimas adaptações temporais, o texto que escrevi no dia 11 de outubro de 2009 sobre o mestre Sabino. Quem ainda não conhece sua obra não sabe o que está perdendo.

Hoje faz seis anos que Fernando Sabino se foi. Lembro muito bem daquele dia. Eu estava prestes a tomar banho para ir trabalhar, quando recebi a notícia. Fiquei desolado. Era como se eu tivesse perdido o chão. Pensei até em faltar aquele dia, mas não havia como. E a explicação? Não havia justificativa, não havia como faltar.

Procurei alguma coisa para amarrar no braço, como demonstração de luto, como fazem os jogadores de futebol em situações semelhantes. Não achei e, depois pensei melhor, nem havia necessidade: minha farda era toda preta (na época eu trabalhava na C&A).

Poucos meses antes eu enviara uma carta a Fernando. A segunda. Como resposta a ambas, recebi um livro com uma curta dedicatória (a segunda é do dia 10 de março de 2004). Desde quando havia recebido o primeiro livro, com uma felicidade que não tenho como expressar, pensei em fazer uma visita a Sabino. Conhecer o escritor e o homem que eu tanto admirava – e continuo admirando -, apertar sua mão e agradecer por tudo o que ele me proporcionou e me fez. É verdade que muito do que seria dito verbalmente eu já havia dito nas cartas, mas seria diferente. Pessoalmente talvez até as palavras me faltassem, mas certamente algumas horas ou minutos conversando dariam conta de demonstrar todo o afeto e carinho que eu sentia – e sinto – por ele.

Dois tios meus moravam no Rio, naquele ano. Ou seja: eu já tinha lugar para ficar. Mas do primeiro livro recebido, em 2003, até aquele início de 2004, fui adiando o planejamento da viagem. Somente depois de receber o segundo livro é que comecei a pensar realmente na ida. Minhas férias deveriam sair no início de 2005, e já comentava aqui em casa minha vontade de ir até lá conhecê-lo. Infelizmente não houve tempo para isso.

Aquilo me deixou numa angústia sem tamanho, felizmente controlada com o passar do tempo. A angústia de querer visitar um lugar ou alguém e, de uma hora para outra, não mais poder: ou porque eu não estaria mais aqui, ou porque a pessoa não estaria mais lá. Isso foi especialmente torturante no caso da morte de Fernando e – é egoísta de minha parte, eu sei – do consequente naufragar de meus planos de conhecê-lo.

O que talvez mais tenha me deixado triste foi o fato de eu ter tido a chance de ter ido ao Rio de Janeiro antes, meses antes de seu falecimento, e ter preferido gastar o dinheiro que tinha com coisas irrelevantes, achando que teria tempo o bastante para conhecê-lo. Ainda hoje me sinto culpado por não ter viajado quando pude. Mas, enfim, não tem como fazer voltar o tempo. Nem fazer essa espécie de culpa ir embora. Esse é um sentimento que vai morrer comigo.

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