SampaFogo 1/2

Cada time de futebol tem suas próprias particularidades e, ao longo da história de cada clube, certos detalhes vão ganhando corpo e se tornando quase folclóricos.

O São Paulo Futebol Clube, por exemplo, até há alguns anos carregava a fama de ter uma torcida abastada – “aristocrática”, cheguei a ler em algum lugar. Além disso, ela seria “mimada”, acostumada a ganhar títulos. Esta segunda premissa está correta; felizmente, o SPFC é um time vencedor. A outra talvez fosse verdadeira décadas atrás, ou nos primeiros anos de fundação do clube, mas hoje a coisa mudou bastante e de certa forma o São Paulo se popularizou: há são-paulinos espalhadados por todos os cantos do Brasil.

Já o Botafogo de Futebol e Regatas, nos últimos anos vinha ganhando fama de azarado, injustiçado. Nas últimas edições do Campeonato Brasileiro, o time carioca vinha sendo alvo de uma série de erros de arbitragem. Além disso, a administração do clube nunca andava muito bem. Sempre com uma crise financeira ou, se não isso, falta de dinheiro para investir em contratações “de peso”. Por essas e outras os torcedores do Botafogo sempre foram vistos como “sofredores”. Vale reproduzir o trecho genial de uma crônica de Nelson Rodrigues, que data de 04 de agosto de 1956:

“Todos os torcedores de futebol se parecem entre si como soldadinhos de chumbo. Têm o mesmo comportamento e xingam, com a mesma exuberância e os mesmos nomes feios, o juiz, os bandeirinhas, os adversários e os jogadores do próprio time. Há, porém, um torcedor, entre tantos, entre todos, que não se parece com ninguém e que apresenta uma forte, crespa e irresistível personalidade. Ponham uma barba postiça num torcedor do Botafogo, deem-lhe óculos escuros, raspem-lhe as impressões digitais e, ainda assim, ele será inconfundível. Por quê? Pelo seguinte: – há, no alvinegro, a emanação específica de um pessimismo imortal. Pergunto eu: – por que vamos ao campo de futebol? Porque esperamos a vitória. Esse otimismo é o impulso interior que nos leva a comprar ingresso e vibrar os 90 minutos. E, no campo, o otimismo continua a crepitar furiosamente. Não importa que o nosso time esteja perdendo de 15 x 0. Até o penúltimo segundo, nós ainda esperamos a virada, ainda esperamos a reação. Pois bem: – o torcedor do Botafogo é o único que, em vez de esperar a vitória, espera precisamente a derrota.” (“Vasco 0 x Botafogo 0”, no livro “O berro impresso das manchetes”; editora Agir, R$ 62,90).

São clubes, portanto, totalmente diferentes, São Paulo e Botafogo. Mas há algo que os aproxima muito: o fato de eles serem os maiores “fornecedores” de jogadores para a Seleção Brasileira de futebol em Copas do Mundo. É verdade que, na última convocação, nenhum dos dois emplacou nenhum atleta. Reflexo da globalização do futebol (apenas 3 dos 23 convocados atuam em times brasileiros; se bem que, desses 23, 4 jogaram pelo São Paulo). Mas ambos continuam – e devem continuar por um bom tempo – no topo desse ranking.

Recentemente, a proximidade entre eles ficou ainda maior, por conta da criação de uma torcida chamada “Sampafogo”. Amanhã vocês ficam sabendo mais sobre ela, em uma entrevista com um de seus integrantes-idealizadores.

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