Tudo começou por acaso, ao encontrar um greatest hits duplo do Robbie Williams por R$ 9,90 (a saber: “In and out of consciousness”, que, como todo greatest hits, tem seus altos e baixos para cada fã).
(E, aqui, um parêntese: este pode ser o post que me desmoralizará para todo o sempre; afinal, estou afirmando, de uma só vez, que ouço Robbie Williams e Take That. Mas espero contar com a compreensão dos amigos e com o apoio das fãs histéricas de Robbie e companhia.)
A primeira música do Greatest Hits chama-se “Shame”, e logo na primeira estrofe reconheci uma voz. O encarte me informou que era, como eu suspeitava, Gary Barlow. Mas como Barlow poderia fazer um dueto com Williams, se ambos estavam brigados há anos?
(Outro parêntese se faz necessário: “Shame”, composta por Williams e Barlow, é uma belíssima canção, uma das mais belas que ouvi nos últimos tempos. A letra nos leva a crer que ela fala sobre a amizade que eles tinham, foi interrompida e recentemente retomada. Mas todo aquele que tenha assuntos ou diferenças pendentes com pessoas queridas pode tomar a música para si e, quem sabe, finalmente dizer aquilo que precisa ser, mas não foi, dito. Agora, bem que o clipe poderia não ter esse fundo “Brokeback Mountain”, né?)
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Quando era adolescente e passava pelas já memoráveis fossas amorosas, eu costumava buscar conforto – na verdade, me afogar ainda mais no buraco da desilusão – em músicas para lá de deprimentes. Uma das que mais ouvi, em determinada época, foi “Back for good”, de Gary Barlow. Ouçam a canção e confiram sua tradução, aí vocês entenderão o por quê.
Digo isso para justificar o reconhecimento de sua voz, mesmo depois de tantos anos. Sim, claro, o rock me salvou, conheci o amor de minha vida e durante muito tempo o Take That não era sequer uma lembrança. Não soube nem do fim da banda, em 1996, nem da volta deles, em 2005. Mas soube da briga entre Williams e Barlow, por causa da falta de compromisso do primeiro com o grupo, quando eles ainda formavam um quinteto. Em 2005 a reunião englobava quatro membros. Robbie Williams estava de fora.
Foi em 2010 que ele retornou ao grupo. Os cinco “quarentões” – Gary Barlow, Howard Donald, Jason Orange, Mark Owen e Robbie Williams; apenas estes dois últimos estando abaixo da linha dos 40 anos – gravaram “Progress”, lançado em novembro de 2010, um álbum muito superior a tudo que o Take That fez, mesmo de 2005 até então.
Os discos anteriores a “Progress” são muito “corretos”, muito “limpos”. Em suma: são pops demais, e até românticos em demasia. Com Robbie Williams de volta, de longe o que mais sucesso teve em carreira solo, o grupo aparentemente se sentiu mais à vontade para arriscar, e fez uso de sintetizadores, por exemplo, além de “sujar” algumas músicas com distorções de instrumentos e vocais.
Isso não ocorre em “The flood”, primeira música do disco, que, apesar de muito bem orquestrada, e superior em todos os aspectos a todas as faixas de “The circle”, álbum anterior da banda, não traz muitas novidades à discografia do grupo.
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A coisa muda de figura a partir da perturbadora “SOS”, segunda música de “Progress”. Ela começa com o que parece ser um sintetizador emulando uma sirene, com uma ruído ao fundo emulando uma interferência de sinal. Enquanto “The flood” fala em progresso – no sentido de superação pessoal -, “SOS” fala de outro progresso, mas aquele que pode nos destruir: o progresso econômico e tecnológico desenfreado que pode causar o fim da humanidade.
São essas duas formas de progresso, a propósito, que sustentam o álbum. Não é à toa, portanto, que ele carrega esse título. Mesmo em músicas mais dançantes e menos incômodas como “Wait”, a questão do progresso é levantada, quando um dos versos diz que estamos nos tornando cada vez mais mecânicos.
(Continua amanhã.)
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