Plano de leitura

* Texto publicado originalmente na extinta coluna Literando, que eu mantinha no site Argumento, em 29 de junho de 2006.

Sempre que compro ou recebo um livro, seja ele um romance, uma coletânea de contos ou crônicas ou poesias, a primeira “coisa” que faço é verificar como o livro é dividido.

Se for um romance, vejo quantos capítulos ele tem, e qual a média de páginas de cada um. O mesmo com as coletâneas de contos, crônicas ou poemas. Depois disso traço um plano de leitura, digamos assim. Lerei “X” capítulos (ou contos ou crônicas ou poesias) por dia e em “Y” dias finalizarei a leitura.

Mas como as coisas quase nunca saem como planejado, muitas vezes eu me enrolo todo. Ou não. Por exemplo.

Dia 15 de abril desse ano, que foi um sábado, recebi o livro (via sedex, por isso chegou no sábado) “Amigos e vinhos, mulheres à parte” (Rocco, 379 págs.), romance do escritor americano Rex Pickett. Como esse texto não se trata de uma resenha, direi apenas que o livro é muito bom, e deu origem ao filme “Sideways – Entre umas e outras“, ganhador do Oscar de melhor roteiro adaptado. Se você não assistiu ao filme nem leu o livro, não sabe o que está perdendo. Mas enfim.

O caso é que, nesse dia, eu passei o dia inteiro em casa. Lembro que recebi o livro por volta das 11 da manhã. Abri o pacote – dentro dele viera também o romance “Tudo se ilumina” (Rocco, 368 págs.), do também americano Jonathan Safran Foer, que também deu origem a um filme, “Uma vida iluminada“, que também é muito bom, e se você não leu o livro nem assistiu ao filme, não sabe o que está perdendo – e peguei “Amigos e vinhos…” pra ler, pois a vontade de lê-lo vinha desde janeiro, quando assisti “Sideways”.

Pensei “de hoje pro próximo sábado termino de ler”. Não tenho certeza absoluta, e estou com preguiça de pegar o livro no quarto, mas ele é composto de sete, oito ou nove capítulos. Leria um capítulo por dia, e pronto, terminado o livro. Mas.

Eis que no dia em que recebi o romance, dia 15 de abril, um sábado, eu li, de uma só deitada, dois capítulos. Se não me engano. O número de páginas eu tenho na cabeça: 99. Lembro porque minha memória não anda tão ruim assim, e também porque fiquei surpreso quando vi o quanto tinha lido. Comentei o feito com minha namorada, dizendo que gostara muito do livro e que não havia parado de ler até a hora de vê-la à noite. A essa altura eu já estava lá pela página 150, ou algo assim, e só porque parei pra ver tv (deve ter tido jogo do São Paulo no dia, ou maratona de Seinfield).

Resultado: li o livro em poucos dias.

O que não aconteceu com o “Livro dos homens” (CosacNaify, 176 págs.), de Ronaldo Correia de Brito, que já foi resenhado aqui no Argumento.net, antes de eu assumir a “Literando“. Ao acabar de ler “Brincar com veneno”, um dos contos do livro, e eu comentei isso na resenha (vocês podem lê-la acessando o link Cena Crítica no menu ao lado) que fiz do livro, fiquei tão abalado que só retomei a leitura dele semanas depois. É um dos melhores contos que já li, e fui forçado a dar um tempo, digerir o conto, pensar nele por dias e dias, para só então voltar a ler o restante do livro.

Existem também aqueles livros para os quais o leitor pode não estar pronto. Ao menos eu penso assim. E digo isso por experiência própria.

Comprei “O processo” (Martin Claret, 256 págs.), de Franz Kafka, em 15 de janeiro de 2003 (tive de pegar o livro no quarto pra verificar esse dado, contrariando minha preguiça), iniciei sua leitura, mas parei antes da metade do livro. Eu não estava absorvendo, não estava gostando de ler “O processo”; não estava entendendo nada, essa é a verdade. Lia muito mais por querer ser um dos poucos ao meu redor a terem lido Kafka. Vaidade pura. Parei, deixei o livro de lado. Depois de muitos meses, peguei-o novamente. E o li por inteiro, de uma só vez. Ninguém soube que eu li, não fiz questão de dizer a ninguém. Vocês estão sabendo aqui agora, e não estou me vangloriando. É só um “causo” que estou contando. (Rimou!)

Não posso deixar de falar também em “Crime e castigo” (Martin Claret, 553 págs.), de Dostoiévski. E ele eu faço questão de citar porque é um romance longo, e muita gente tem medo (ou preguiça) de ler livros grandes. Pois digo que quando comecei a ler “Crime e castigo”, fui logo hipnotizado pelo mestre russo, e não consegui parar até terminar a leitura. Não demorou mais de uma semana pra que eu o terminasse. E não é à toa que meu login no Gmail é “rafaelnikov”.

Onde quero chegar com tudo isso? Lugar nenhum. Atiçar a curiosidade de vocês. Quem sabe alguém aí não vai atrás de um desses romances por conta do que foi dito aqui? É o que estou tentando fazer, confesso.

E o plano. Não esqueçam do plano de leitura.

This entry was posted in Crônicas. Bookmark the permalink. Post a comment or leave a trackback: Trackback URL.

2 Comments