Pergunte ao Bandini

* Texto publicado em junho de 2006, na minha extinta coluna Literando, no site Argumento.

E, por favor, sem trocadilhos infames com a marca de macarrão [Brandini], como anda fazendo um amigo meu.

Bandini, Arturo Bandini, é o alter-ego do escritor norte-americano John Fante (1909-1983), personagem de quatro romances do autor: “O caminho de Los Angeles“, “Espere a primavera, Bandini”, “Pergunte ao pó” (recém-adaptado para o cinema) e “Sonhos de Bunker Hill”. Os três primeiros foram publicados no Brasil pela José Olympio Editora. O último saiu pela L&PM, em edição pocket.

Cheguei à literatura de John Fante por causa de Charles Bukowski (1920-1994), que decidiu ser escritor depois de ler “Pergunte ao pó”.

Mas então. Às pressas escrevo este texto, em uma maldita madrugada insone, tendo à minha frente o romance “O caminho de Los Angeles” (que ganhei de minha namorada neste último dia 12 de junho), tendo como motivação a estréia do filme “Pergunte ao pó”. Um estalo tardio em minha mente (em todos os sentidos). Minhas boas ideias surgem com um “delay” que ainda não sei explicar.

Pois comecei a ler “O caminho de Los Angeles” (colocando-o à frente de um sem número de leituras atrasadas), e fiquei surpreso. Não achei que o livro fosse tão bom e tão agradável. E olha que ainda estou no começo.

Resolvi, então, fazer essa recomendação e deixar aqui um trechinho do livro.

Opa! Faltou eu dizer que Arturo Bandini é um descendente de italianos que mora nos Estados Unidos com a família e sonha em ser um escritor de sucesso. No romance “O caminho de Los Angeles” acompanhamos um Bandini extremamente ácido e sarcástico em suas andanças e vivências ainda no Colorado, antes de se mudar para a cidade dos anjos.

Peguei meu livro de Nietzsche debaixo do balcão e parti para a porta. Nietzsche! O que sabia ele sobre Friedrich Nietzsche? Embolou a nota de dez dólares e a jogou sobre mim.

– Seu salário de três dias, seu ladrão!

Encolhi os ombros. Nietzsche num lugar destes!

– Estou indo embora – falei. Não fique excitado.

– Saia daqui!

Estava a uns bons quinze metros de distância.

– Escute – falei. Estou vibrando por sair daqui. Estou cansado de sua baboseira, de sua hipocrisia elefantina. Queria abandonar este emprego absurdo já há uma semana. Portanto, vá direto para o inferno, seu carcamano de merda!

Parei de correr quando cheguei à biblioteca.

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