Out of control

Tornei-me fã do U2 muito por acaso. Foi no ginásio, depois de um amigo do colégio insistir bastante para que eu ouvisse alguns cds da banda, que ele fazia questão de me emprestar. Essa solicitude toda, veja só, porque ambos éramos – e continuamos sendo, claro -, fãs alucinados do Asa de Águia (hoje o Asa não é mais aquele, daqueles tempos, mas é justamente o Asa daqueles velhos tempos que faz nossa admiração não se perder). Esse meu amigo, o Diogo, tinha todos os cds do Asa, e tinha certeza de que eu iria gostar também do U2. Não só isso, é claro. Nosso gosto para música sempre foi mais refinado que o de nossos colegas, por isso a insistência dele.

Trouxe para casa uns dois cds do U2. O The unforgettable fire e o outro não me lembro. Gostei das músicas, mas não fiquei tão admirado. Eu não entendia nada em inglês, e achava que U2, Pearl Jam e outras bandas tinham parte com o capeta, ou algo do tipo. Mas aí fui me informando, e vi que não era nada disso, muito pelo contrário.

Algum tempo depois, li num jornal que o U2 estava prestes a lançar uma coletânea. O cd teria duas edições. Uma normal, com um cd apenas, e uma outra, com dois discos, esta com cópias numeradas e limitadas. Minha doença por ter coleções e qualquer coisa que seja mais ou menos rara me fez implorar à minha mãe que comprasse o cd. Praticamente a obriguei a adiantar uma ida a Salvador para ela trazer o cd pra mim, pois estava morrendo de medo de o cd não chegar aqui, ou chegar e acabar logo.

Boa mãe que a minha é, foi a Salvador e me comprou o cd. E eu fiquei maravilhado. Primeiro, por ter uma das 200 mil cópias numeradas do disco; segundo, pelas músicas dele.

A partir daí, me tornei um viciado em U2. Não sei se foi antes ou depois da coletânea, a turnê PopMart. Sei que o tio do Diogo foi ao show, em São Paulo, e quase que fomos junto. Nossas mães não acharam lá uma idéia muito boa. Na verdade, a mãe do Diogo não liberou, o tio dele era meio doidão. E eu só iria se ele fosse. Enfim.

Lembro que até uma home-page sobre a banda eu criei. Hospedada no xoom.com, acho que era esse o nome do domínio que hospedava sites. Tudo num HTML bem arcaico, com um monte de Gifs pesados e brilhosos, mas com um conteúdo bem legal. Na época, não havia ainda MP3, acho, e eu me virava com arquivos .MID. Deixava uns para download, fiz uma biografia da banda, dos integrantes, algumas curiosidades, tudo devidamente “inspirado” em outros sites sobre o U2, claro. Mas foi algo que me deixou orgulhoso, e que muita gente gostava e falava bem.

A fixação pela banda não me fez comprar mais discos, não lembro porquê. Só vim comprar um cd do U2 em 2000 (não sou bom com datas, mas sei que foi logo depois de eles lançarem o All that you can’t leave behind).

Depois, comprei uma outra coletânea, igualmente com dois cds, em edição numerada e limitada. Em seguida, o How to dismantle an atomic bomb, lançado em 2004 (se não estiver novamente enganado).

Aí, depois de ouvir os mais recentes, comecei a querer os mais antigos. Comprei o Boy, que foi o primeiro, e o War, que é o terceiro. Nesse meio tempo, li um livro sobre a banda, o “Walk On – A jornada espiritual do U2”, devidamente resenhado por mim no antigo Entretantos (e talvez até tenha republicado a resenha aqui).

Depois dos cds, comecei a comprar os dvds. Primeiro foi o U2 Go Home, que já já tem menção honrosa neste texto. Depois foi o Rattle and Hum. E, por último, o da turnê Vertigo. Aluguei o Live from Boston, da turnê Elevation, mas só assisti, mal e mal, o primeiro disco. Não cheguei a ver o documentário. Não o comprei porque estava caro demais* (engraçado isso, pois o Live from Boston sempre foi mais caro que todos, agora que ele tá abaixando de preço). Ah, caramba, esqueci que comprei recentemente o da turnê Zoo TV (engraçado isso também: o duplo estava mais barato que o simples; vai entender…).

Deles todos, o que mais me emociona é, de longe, o U2 Go Home. Gravado no fim de 2001, no Slane Castle, na Irlanda, o Go Home tem uma energia bem diferente dos outros. Ao menos para mim. Os integrantes da banda são irlandeses, de Dublin. Eles estão, literalmente, em casa. Talvez isso tenha feito com que este dvd, em particular, seja superior aos anteriores (e até aos posteriores!). Não que os outros sejam artificiais ou sem emoção, não é isso. O Vertigo foi gravado com a filha do The Edge internada, o dvd é dedicado a ela, inclusive. O Live from Boston foi gravado poucos dias após a morte do pai do Bono, se não me engano. O Zoo TV foi gravado numa época em que o U2 mostrava uma postura bem arrogante (postura essa que teve início na época do lançamento do Zooropa e foi até o Pop, me corrijam se eu estiver errado). Ou seja, todos os shows que viraram dvd foram gravados em épocas definitivas para o U2 como um todo ou para um ou outro integrante da banda. Então, todos têm sua devida carga de emoção. Mas nada comparável ao Go Home.

O dvd começa do mesmo jeito que a maioria dos shows da Elevation Tour, com “Elevation”. Depois, “Beautiful day”, ambas do recente All that you can’t leave behind. Depois, “Until the end of the world” faz o público e a banda voltarem alguns anos antes e relembrar o até hoje criticado Pop. “New year’s day” volta ainda mais anos no passado, culminando em “Out of control”, a segunda faixa mais emocionante do dvd. Isso porque Bono relembra o show que eles fizeram no mesmo Slane Castle 20 anos antes. Enquanto a cozinha da banda dá início aos primeiros acordes da música, ele diz:

“I want to thank Phillip Lynott for letting us open this show. We’re a band from the north side of Dublin, we’re called U2, this is our first single, we hope you like it!”

(“Quero agradecer a Phillip Lynott por nos deixar abrir este show. Nós somos uma banda do norte de Dublin, nos chamamos U2 e este é o nosso primeiro single, esperamos que vocês gostem!”)

Eles cantam a música e, ao som de um instrumental em volume bem baixo, Bono inicia o seguinte monólogo:

“There’s some big ideas… Father, I need a lend of 500 pounds, because we’re gonna go over to London and we’re gonna score outselves a record deal and when we get our record deal we’re not gonna stay in London, we’re not gonna go to New York City, we’re gonna stay and base our crew in Dublin! Cause these people, this is our tribe! But I still need a lend of 500 pounds… What do you say? My old man, 500 pounds I want to thank my old man for that 500 pounds! I want to thank Larry Mullen’s father for 500 pounds! The Edge’s mother and father for 500 pounds! Adam Clayton’s family for 500 pounds! And by now you’ve probably all given us about 500 pounds each too so thank you.”

(“Existem algumas grandes idéias… Pai, eu preciso de 500 paus emprestado, porque nós vamos a Londres e vamos conseguir um contrato com uma gravadora e quando nós conseguirmos o contrato com a gravadora nós não vamos ficar em Londres, nós não vamos para New York City, nós vamos ficar e nos fixar em Dublin! Porque essas pessoas, essa é a nossa tribo! Mas eu ainda preciso de 500 paus emprestado. O que você diz? 500 paus, pai. Eu quero agradecer a meu pai pelos 500 paus. Eu quero agradecer ao pai do Larry Mullen pelos 500 paus. À mãe e ao pai do The Edge pelos 500 paus. À família do Adam Clayton pelos 500 paus. E até agora cada um de vocês provavelmente gastou uns 500 paus conosco, então, obrigado.”)

E voltam a cantar a música. É de arrepiar.

O show continua, com músicas novas e de cds mais antigos, até o desfecho, com a performance mais emocionante do dvd: “Walk On”. O final, com Bono e The Edge cantando “Aleluia” é maravilhoso.

Por essas e outras, não é difícil derramar algumas lágrimas toda vez que assisto o dvd. Eu havia me desfeito dele, anos atrás. Esses dias comprei-o-o novamente, e já faz algumas horas que o ouço/assisto aqui mesmo, enquanto escrevo este post.

* Comprei o Live at Boston este ano.

Atualizado em 30/09/2008

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