O livro que quero

Nos últimos tempos tenho procurado livros sobre crítica literária para ler. Mas não livros de teoria, e sim livros com ensaios literários, ensaios sobre literatura e crítica. Não busco livros teóricos pelo simples fato de ainda não querer me aprofundar no assunto – já basta o que vi na faculdade, por enquanto.

E tenho até encontrado livros que parecem ser interessantes. O problema é que não há como folhear o livro, e isso é terrível. Nem tanto pelo fato de não folhear, isso pra mim não é problema. Já comprei vários livros “às cegas” e até hoje me arrependi pouquíssimas vezes. O problema é o preço dos livros.

Um exemplo: “Questão de ênfase“, de Susan Sontag e “Inútil poesia“, de Leyla Perrone-Moisés. As sinopses dizem que são livros de ensaios breves sobre literatura. Ok, tudo bem. Não duvido da qualidade dos livros, aposto que ambos são bons. Mas será que vão servir pro que eu quero?

Procuro livros como “Dentro da Baleia“, de George Orwell, que tem ensaios belíssimos sobre literatura (esse eu já tenho, ainda bem). Livros que me digam algo assim:

“Eu me esforço para reconhecer o valor daquilo que não me agrada – não só dos livros que não me agradam, mas até dos escritores que não me agradam. Sempre faço este esforço para ser objetivo, leal, na medida do possível, fazendo a justiça que me cabe. Eu posso, em alguns casos, criticar do ponto de vista negativo um determinado livro e, mais tarde, encontrar o autor escrevendo um bom livro, e então elogio. Não há nenhuma incoerência, mas isso não é muito bem compreendido em geral, e muito menos pelos autores, porque, quando eles recebem uma crítica desfavorável, aceitam aquilo como uma espécie de insulto pessoal, ficam emburrados, não falam mais comigo. E realmente não é disso que se trata.” (Wilson Martins, no texto “O crítico por ele mesmo”; tentei encontrar esse texto na íntegra, mas não consegui; o trecho reproduzido está na orelha de “O ano literário“, que comprei recentemente).

Ou, ainda:

“O que acontece na literatura não é diferente do que acontece na vida: para onde quer que se volte, depara-se imediatamente com a incorrigível plebe da humanidade, que se encontra por toda parte em legiões, preenchendo todos os espaços e sujando tudo, como as moscas no verão. Eis a razão do número incalculável de livros ruins, essa erva daninha da literatura que tudo invade, que tira o alimento do trigo e o sufoca. De fato, eles arrancam tempo, dinheiro e atenção do público – coisas que, por direito, pertencem aos bons livros e a seus nobres fins – e são escritos com a única intenção de proporcionar algum lucro ou emprego. Portanto, não são apenas inúteis, mas também positivamente prejudiciais.” (Arthur Schopenhauer, em “Sobre o ofício do escritor“, que redescobri no meio dos meus livros).

Pensei em comprar “A cortina“, do Kundera. Mas não conheço ninguém que o tenha lido. Pensei também em “A inteligência e o cadafalso“, de Camus, mas novamente não encontrei alguém que o lera. São livros curtos, mas de preço um tanto salgado. Meses atrás os compraria sem pensar, mas agora minhas prioridades são outras.

Se for falar nos livros da Sontag e da Leyla, então, melhor esquecer. São mais de 50 reais, cada. Devem valer cada centavo, mas no momento não dá, paciência. Quer dizer, até daria, se eu conhecesse alguém que tivesse lido ambos e me dissesse “são exatamente o que você precisa, Rafa”. Quem poderia me dizer isso, meu querido amigo Thiago, não leu nada. Ele até tem o “A cortina”, mas não leu ainda. Falei pra ele: “cara, você tá me atrapalhando; se tivesse lido o livro, poderia me dizer como ele é, e aí eu decidia se comprava logo”. Um folgado, esse Thiago.

E é isso que acontece. Não conheço ninguém que tenha lido os livros que me interessam e não acho que vá encontrar o livro ideal para mim. Tentarei resumir: quero um livro que fale sobre literatura e crítica literária contemporânea, mas sem pedantismo ou teorias demais. Quero um texto agradável como o de George Orwell, com metade da erudição de Augusto Meyer (que já estou lendo também) e a bagagem literária de Wilson Martins. Mas, pelo que vejo, não existe tal livro. O que acaba voltando pra mim, porque se não encontrar tal livro, serei obrigado a escrevê-lo. E isso vai me dar um trabalho danado.

Complicado.

P.S.: Acabei comprando “A cortina”. E o livro é mesmo bom.

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