… tenho certeza de que o Robert Fisk não precisa mesmo do Google. Quem precisa do Google sou eu. O Fisk escreve sobre Oriente Médio, fala árabe e hebraico, tem acesso às maiores mentes da região, conhece a cultura que quase incorporou, vive há várias décadas por lá. Robert Fisk precisa de telefone e de sua agenda de telefones. Precisa estar no local onde as coisas acontecem. Lá, certamente saberá contar o clima de como é. Saberá encontrar as provas de que o míssil era americano. Talvez aconteça de apanhar de uma turba enfurecida com ocidentais. Mas que outro repórter saberá dizer ao Ocidente como pensa o árabe que não gosta do Ocidente? Só conheço ele. Fisk será sempre passional e, muitas vezes, francamente anti-Israel – e, nestes momentos, sempre vou xingar muito a partidarização de Robert Fisk. Mas ele é um repórter extremamente corajoso, um homem que conhece profundamente o assunto do qual trata e que escreve bem como os diabos. Repórteres como Robert Fisk nunca mais existirão. Ele é fruto de seu tempo e de uma tradição de repórteres formados numa determinada cultura britânica ainda imperial que produziu, também, pessoas de esquerda. Repórteres como ele, políticos como Tony Benn, são espécimes em extinção. Mas isto não quer dizer que estejam obsoletos. Têm muito a dizer e ainda dizem. Robert Fisk pode não precisar do Google, mas ele é tão relevante na sopa de informação produzida por lá que Robert Fisk dá 2,5 milhões de respostas no Google. É o Google que precisa de Robert Fisk.
Pedro Dória, em entrevista ao Digestivo Cultural. É uma pena eu não ter tempo nem grana para ler “Pobre Nação” e “A grande guerra pela civilização“, ambos do Fisk, lançados recentemente aqui no Brasil. Mais pena mesmo pela falta de tempo, porque a grana ou os livros eu dava um jeito de conseguir (por meios lícitos, é bom deixar isso claro). Enquanto isso, minha curiosidade por História e, mais especificamente, pelas Guerras, só aumenta.