Nossa realidade é outra

Fui dar uma olhada no site do Senado Federal e acabei achando um link para verificar o uso da verba indenizatória por cada senador.

Essa verba é uma espécie de reembolso para atividades – relativas ao mandato – desempenhadas pelos senadores. Abastecimento de carro, por exemplo. Material de escritório, essas coisas. São 15 mil reais por mês. Deputados também têm direito a esse dinheiro. Foi com ele, aliás, que, muito provavelmente, o Edmar Moreira construiu seu castelo.

Neste link (é um PDF) vocês podem ver como os senadores utilizaram esse dinheiro durante os meses de janeiro, fevereiro e março deste ano. É curioso ver que o senador Delcídio Amaral, um dos paladinos da ética na época do mensalão, usou tudo o que tinha direito. Mais curioso ainda é ver que o senador Arthur Virgílio, o pitbull do PSDB, não utilizou 1 real sequer.

É óbvio que, se é um direito do político, ele pode usar até o talo. A questão é: esse dinheiro foi gasto de maneira correta e honesta? Mais: foi mesmo necessário gastá-lo? Mais ainda: essa verba é realmente indispensável? Por que não eliminá-la, uma vez que já há tantos benefícios extras para políticos?

Cheguei até as verbas indenizatórias porque estava procurando saber qual o salário atual dos senadores. E é incrível como é difícil encontrar essa informação no site oficial do senado – ou mesmo no site oficial da república. Na verdade, não foi lá que encontrei o valor, mas sim neste link, que reproduz uma matéria da Folha de São Paulo.

Fui atrás, também, do valor que os senadores norte-americanos recebem. Acreditem ou não, fiquei sabendo disso em menos de 5 minutos, através do site oficial do senado deles.

O valor: 174 mil dólares anuais, que dá 14.500 dólares por mês. O senador brasileiro ganha 16.500 reais por mês. Ou seja: 198.000 por ano. Isso multiplicando por 12, mas, se não me engano, o certo seria multiplicar por 15. Hum, e sem falar nas convocações extraordinárias, pelas quais os políticos recebem mais de 25 mil reais – por convocação. (Aliás, se alguém souber que isso deixou de existir, favor avisar.)

Aos “do contra” de plantão, nem adianta dizer que, se for pra comparar, é necessário “dolarizar” o salário do senador brasileiro ou “realizar” o salário dos senadores norte-americanos. A comparação aqui deve ser feita sem nenhuma adaptação. Até porque, no fim das contas, os gastos serão praticamente os mesmos – exceto se formos falar em carros (eu adoraria morar lá, só pra poder comprar um PT Chrysler por menos de 20 mil doletas), produtos eletrônicos e outros objetos específicos. Mas um quilo de arroz, por exemplo. Lá custa U$ 1,50. Aqui, no Brasil, dá pra encontrar um quilo de arroz por R$ 1,50 ou alguns centavos a mais. Quem tiver interesse, neste link dá pra ter uma noção do custo de vida em Nova York (tendo como base valores do ano de 2007).

Estou dizendo tudo isso porque assisti, através do site de Luis Carlos Azenha – onde, aliás, caí totalmente por acaso, através do blog de Rodrigo Vianna -, este vídeo no qual Ciro Gomes afirma que os políticos americanos – e dinamarques, e suecos, e… – têm direito a passagens de avião sem limites para uso.

E então pensei: o fato de existir determinados privilégios em determinados países não implica na implantação ou manutenção de tais benesses aqui, no Brasil. Nossa realidade é outra.

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A revista piauí deste mês traz uma ótima matéria assinada por Dorrit Hazarim, que acompanhou um deputado federal “novato”. Além de a trajetória do cara ser bem legal – ele é de família humilde, lá do Piauí, começou a ganhar dinheiro lavando carros quando guri -, há na matéria o valor do salário de um deputado federal e todos os “auxílios” a que eles têm direito. Além disso, o deputado revela certos acontecimentos de bastidores que conhecemos de cor, mas é sempre bom ler sobre. Até pra não acabar esquecendo.

Vejo agora que a reportagem está disponível no site da piauí apenas para assinantes. Como sou a favor da sobrevivência das revistas, não vou acessar o conteúdo e republicar aqui. Além de isso ser – é sério – ilegal, é uma matéria relativamente grande (quatro páginas; ou frente e verso de duas folhas, fica a critério do leitor), melhor ler na revista impressa mesmo. R$ 9,50 só, na banca mais perto de você.

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Pesquisando sobre as tais convocações extraordinárias, encontrei um link sobre o mesmo assunto deste post, publicada em 2006. Sou um humilde blogueiro, este post é apenas uma introdução tosca sobre esse assunto desagradável – mas necessário – que é a política e os salários dos políticos. Então, para mais e maiores detalhes, cliquem aqui e confiram a tal matéria (reprodução de conteúdo do JB).

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Atualização (12:31, 21/05/2009): Acabo de ver que Paulo Maluf não utiliza a verba indenizatória há meses. Não sei se isso é bom ou ruim. Porque, sei lá, vai que ele está desviando dinheiro de outro lugar? Com o Maluf todo cuidado é pouco. (Mas vai que ele está se redimindo? Se sim, parabéns pra ele.) Quem quiser verificar o uso da VI pelos deputados, basta clicar aqui. Inclusive dá pra ver como Sérgio Moraes gasta tanto. E a Luciana Genro também. E outros tantos.

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