No consultório médico

Vou contar a vocês a minha ida ao médico hoje. Mas, antes, é necessário dizer o seguinte.

Independente de quando, onde, com quem ou por quê, tenho tentado ser o mais sincero possível. Então, se você me mostrar uma camisa que você comprou e eu achar a camisa ridícula, eu vou dizer que acho a camisa ridícula. Se você me aparecer com um penteado que eu acho que é horrível, eu vou dizer que achei horrível. Eu tenho minha opinião e não vou deixar de torná-la pública – quando solicitada, claro. E estou aplicando isso em todos os segmentos de minha vida e com todos que conheço e amo – ou não. Até mesmo com quem não conheço.

Dia desses inventei de comer uma fatia de torta num café aqui e deixei metade. A menina perguntou “não gostou não?”. Eu poderia ter dito que já estava cheio, ou que estava sem tempo, poderia pedir para embalar o resto pra levar pra casa. Mas não. Disse que achei a torta ruim, doce demais.

Dito isso, vamos lá.

Acordei hoje com uma dor de cabeça enorme. Acho que é sintoma de sinusite. O médico que costumo ir – e que é médico também de meus pais – suspeita que eu tenha sinusite. Me mandou fazer uns exames, mas eu acabei não fazendo. Hoje ele não estava atendendo e eu não me senti legal pra ir trabalhar. Então, eu teria que conseguir um atestado. Deixei pra fazer isso à tarde, com minha querida mamãe, e não restou outra opção a não ser ir a um pronto-socorro.

Chegamos lá, preencheram minha ficha e nos mandaram aguardar. Aguardamos. Eu queria só entrar, dizer o que estava sentindo, pegar um atestado e me mandar. Só isso, mais nada. Mas, vejamos.

Chamaram meu nome e fomos para a sala do médico. Digo, quase fomos. Havia gente aguardando na porta, para ser atendido. Não entendemos. Minha mãe foi até a recepção saber o que estava acontecendo. Quem foi chamado antes de mim ainda não havia sido atendido, o médico estava fazendo alguma coisa no computador e não pediu pra ninguém entrar. Meio ridículo e improvável isso, não sei como aconteceu uma coisas dessas, mas foi assim. Enfim: avisaram lá ao homem que havia gente esperando, esperei duas pessoas serem atendidas e entrei.

Quando entrei, disse “boa tarde” e não obtive resposta. Segundos depois minha mãe entrou, disse “boa tarde” e também não obteve resposta. Tudo bem, tudo bem, eu só queria o meu atestado.

Depois de uns dois minutos digitando algo, o doutor fez o favor de perguntar o que havia. Eu lhe disse que acordara com dor de cabeça, que havia uma suspeita de sinusite levantada por meu médico, que estava “fungando” muito e que estava sentindo o corpo cansado.

Ele perguntou se eu tinha alergia a algum medicamento. E foi aí que a coisa começou a feder. Eu sei que não posso tomar dipirona. A última – imagino que única – vez que fui submetido a ela, quase parto dessa para a melhor. Tenho também alergia a um outro remédio, que tomei quando guri, que me deixa enjoado a ponto de expeli-lo logo depois que o tomo. O negócio é que nem eu nem minha mãe lembramos o nome do tal medicamento. O doutor falou que tínhamos que saber e tal – até aí tudo bem, ele está certo. Mas inventou de falar que, se fosse o caso, eu deveria tatuar o nome do remédio no braço. Foi uma piadinha idiota, a gente até releva. E eu não queria confusão, queria meu atestado. Daí minha mãe perguntou se ele tinha como ver alguma ficha minha anterior – eu já estive lá outras vezes. Ele respondeu dizendo que “se tivesse como, eu já estaria vendo”. Nessa hora pensei fazer como o Bruce Banner e ficar verde. Mas me controlei. Afinal, eu queria o atestado.

Depois disso, ele imprimiu umas folhas. Eu achei que seria o atestado, finalmente. Mas não. Era uma requisição de exame de sangue, uma solicitação de medicação imediata na enfermaria, e uma outra dizendo que eu estava, entre outras coisas, com febre. Bom, eu não pronunciei, nem minha mãe, em momento algum, a palavra “febre”. Eu não iria ficar lá. Eu só queria a porra do atestado e queria voltar pra casa, pra descansar, só isso. Amanhã eu estaria melhor. Perguntei então se eu poderia não tomar a medicação e não fazer o exame. Ele disse que sim, mas que não poderia me dar um atestado, pois não teria como justificá-lo.

Aí eu disse que “só vim aqui pelo atestado, porque estou perdendo um dia de trabalho”. Ele repetiu o que disse antes: não podia dar se eu não ficasse lá e tomasse a medicação e fizesse o exame. Aí eu falei “bom, fica como falta no trabalho, então”, chamei minha mãe pra sair e saí da sala. Achei que ela tinha vindo atrás de mim, mas ela tinha ficado. Voltei pra tirar ela de lá, mas ela continuou falando com ele. Eu saí da sala, senão a merda seria maior. Resultado: ela acabou conseguindo o atestado de consulta. Ao menos isso.

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