A condição mais preciosa do criador
O fanatismo. É preciso ter uma obsessão fanática, nada deve antepor-se a sua criação, deve sacrificar qualquer coisa a ela. Sem esse fanatismo nada de importante pode ser feito.
Crise da arte ou arte da crise? [trecho]
É óbvio que uma coisa é a humanidade e outra muito diferente o público-massa, esse conjunto de seres que deixaram de ser homens para se converterem em objetos fabricados em série, moldados por uma educação padronizada, embutidos em fábricas e escritórios, sacudidos diariamente em uníssono pelas notícias lançadas por centrais eletrônicas, pervertidos e reificados por uma indústria de historietas e novelas radiofônicas, de imagens jornalísticas e estatuetas de bazar. Ao passo que o artista é o único por excelência, aquele que, graças a sua incapacidade de adaptação, a sua rebeldia, a sua loucura, conservou paradoxalmente os atributos mais preciosos do ser humano. Que importa que às vezes exagere e corte uma orelha? Ainda assim, estará mais perto do homem concreto do que um amanuense razoável no fundo de um ministério. É certo que o artista, encurralado ou desesperado, acaba por fugir para a África [Rimbaud], para os paraísos do álcool [Fitzgerald, Capote e uma porrada de outros mais] ou da morfina [Ginsberg], para a própria morte [Nava, Quiroga e outros tantos]. Tudo isso indica que é ele quem está desumanizado?
Ernesto Sabato, em “O escritor e seus fantasmas“. Pra quem não está acostumado, o que está entre colchetes são observações minhas.
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