Ingenuidade, não: esperança

Por mais de uma vez li no Twitter, no Facebook e em blogs que os eleitores de Marina Silva são ingênuos. Ou, para utilizar uma expressão que li ontem, que os eleitores de Marina a veem como uma “salvadora da pátria”.

Nós tivemos nosso Sassá Mutema. Ele é o atual presidente da república. Ele costumava ser nosso salvador da pátria.

A eleição de Lula em 2002 representava isso. Depois de termos José Sarney (um coronel), Fernando Collor (o homem que destruiu o Brasil) e Fernando Henrique (o demagogo) como presidentes nos últimos quase 30 anos, finalmente a esquerda chegava ao poder, tendo como liderança um homem que vem do povo, dentro de um partido que pregava a ética e a honestidade como bases políticas.

Mas aí o tempo passou e o que aconteceu? Incontáveis escândalos de corrupção e alianças com Sarney e Collor.

Não sou intransigente a ponto de dizer que o governo Lula foi um governo ruim. Muito pelo contrário. Foi um bom governo – nada extraordinário, apenas bom. Mas poderia ter sido muito melhor. Lula, com sua enorme popularidade e com a força de seu partido, teve a oportunidade única de realizar coisas que talvez nenhum outro candidato venha a ter. Por exemplo: romper com esquemas sujos, como o mensalão, ou mesmo fazer a reforma política, a reforma tributária, uma verdadeira reforma agrária.

Lula perdeu essa oportunidade. Acomodou-se ao poder. Fez grandes realizações, como tirar mais de 30 milhões de pessoas da pobreza. Mas, repito, poderia ter feito muito mais. As suas realizações certamente serão muito mais lembradas que os escândalos, mas nada tira essa mancha podre de sua administração.

Este post na verdade seria bem-humorado, mas me perdi pelo caminho. Eis mais ou menos o que eu iria realmente escrever:

Os eleitores de Marina são ingênuos: não acreditam que tenha existido mensalão no governo Lula. Também não acreditam em irregularidades nas privatizações realizadas durante o governo FHC. Acreditamos, também, que a Casa Civil seja um reduto de pessoas íntegras e honestas, e que os escândalos ligados ao gabinete sejam invenções da imprensa, que é financiada justamente pelo Coringa, que tem planos de dominar o Brasil e, depois, o mundo.

Os eleitores de Marina acreditam, ainda, que Elvis Presley não morreu. Ele vive, na verdade, no interior de São Paulo, recebendo ajuda financeira do Partido da Causa Operária, que, no fundo, é só fachada: Bruce Wayne utiliza o PCO para lavar o dinheiro que ganha de políticos marcianos corruptos.

A coisa ia mais ou menos por aí, e só depois viria o texto que você leu antes do itálico.

Eleitores de Marina Silva não são ingênuos, não são bobos. Eleitores de Marina Silva estão decepcionados com o governo Lula e com o PT, que levantou por anos e anos a bandeira de ética, mas ao chegar no governo a jogou no lixo. Sabemos, também, que não se pode confiar no PSDB, sob o risco de termos o Brasil vendido a empresários estrangeiros.

Por outro lado, eleitores de Marina sabem que existem pessoas boas e íntegras – uma pequena parte, é verdade, mas existem – em todos os partidos. Os eleitores de Marina sabem que, em um eventual governo seu, haveria finalmente uma coalizão política em nome de um Brasil limpo, livre de interesses pessoais, visando o fim de conchavos políticos e da roubalheira do dinheiro público. Eleitores de Marina sabem que isso é possível e que, entre os principais candidatos, apenas ela tem respaldo para fazer alguma coisa nesse sentido.

Os eleitores de Marina também sabem que Marina Silva pode não conseguir fazer o que pretende, que é justamente fazer alianças políticas saudáveis e limpas em seu governo. Mas os eleitores de Marina também sabem que, não é porque existe a possibilidade de dar errado, que se deve deixar de tentar.

É por isso que votamos em Marina Silva. Porque ela é sinônimo de esperança.

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