Quem estava esperando o romance “Há quem prefira urtigas“, do escritor japonês Junichiro Tanizaki, baixar de preço para comprar, chegou a hora. O livro está custando R$ 10,90 na Livraria Cultura e o meu já chegou. Com o frete ele iria pra R$ 15,00 e alguns centavos, não lembro. Sendo que o preço mais barato que encontrei na rede foi de R$ 29,90. Excelente negócio.
Aliás, a Cultura está aprontando alguma. Notei que uma nova categoria para as editoras foi criada. Se você prestar atenção, na página do livro do Tanichiro tem, na descrição da editora, “CIA DAS LETRAS – BB”. Clicando lá você tem acesso a outros livros da editora com um preço bem mais em conta. Exemplo? “American Vertigo“, que eu quase compro, está custando R$ 27,90, sendo que o preço de capa dele beirava os R$ 60,00. Fiquei tentado, mas não comprei.
(E isso não vale apenas para livros da Companhia das Letras. Se você clicar em “Editora” e digitar “BB” no campo de busca da Livraria Cultura, vai ver que outras editoras têm livros nessa nova categoria.)
Começa, então, a virar lenda aquela história de que “livro é caro”. A auto-biografia de Eric Clapton está por R$ 19,90 na Saraiva. O “O Mago”, de Fernando Morais, tá por R$ 24,90. “A doutrina do choque”, de Naomi Klein, por R$ 29,90 (esse eu peguei também). Não sei até quando vai essa promoção, mas são esses os preços enquanto digito este post, 13:05 de sábado, dia 06/09/2008. Se os preços “voltarem ao normal”, não é comigo nem com a Saraiva, a promoção é temporária.
Na verdade, geralmente quem reclama de preço de livro é quem não gosta de ler mesmo. Certo, existem aquelas pessoas que realmente não têm condições de comprarem e tal, mas acho que nem elas reclamam tanto. Quem mais reclama é quem tem dinheiro. E só faz isso porque é mais uma desculpa para não comprar um livro. São do tipo de
gente que não lê literatura (e a quem, é bom lembrar, não se tem de reprovar nada: seria como reprovar a abstenção de quem não pratica a caça submarina; além disso, entre aqueles que não se interessam por literatura, conta0se noventa e nove por cento dos grandes homens da humanidade: heróis, santos, descobridores, estadistas, cientistas, artistas; a literatura é de fato uma atividade muito minoritária, mesmo que não pareça).
Palavras do escritor argentino César Aira, no seu “Pequeno manual de procedimentos“.
E, realmente, a literatura não serve pra nada. Quer dizer, serve. Para caras como eu gastarem todo seu dinheirinho em livros e ficarem preocupados em escolher uma boa estante para guardá-los. Serve para caras como eu terem uma preocupação na vida, já que esse tipo de cara não liga muito para as questões burocráticas dela. Serve para caras como eu sonharem sonhos difíceis de serem atingidos, mas que ao menos dão uma razão de viver.
No mais, a literatura já matou muita gente, já faliu muita gente e já fez muita amizade ruir. Mas, quem liga pra isso? Afinal, é a literatura. Acidentes de trânsito, cigarro e o tráfico de drogas matam muito mais e são coisas muito mais sérias que ela, não?
Hum. É pra isso que serve a literatura: para esquecermos um pouco essas informações tão reais e assustadoras.
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P.S.: Agora vi que a Cultura organizou melhor os livros em promoção. Estão numa “subloja” que chamam de “Bom e Barato“.
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