Eu sou um moleque

Tem sido no mínimo engraçado o que acontece comigo quando me afasto de casa por algum tempo. Ano passado, quando fui à Flip e passei alguns dias em São Paulo, certas coisas ficaram mais claras para mim. A viagem serviu para que eu aprendesse e assimilasse situações que eu ou não queria ou não tinha ainda conseguido encarar de frente.

O mesmo aconteceu dias atrás, quando fui com minha bem-amada à Paraíba, terra de meu pai. Fomos primeiro a Queimadas, onde meu velho nasceu e se criou. E lá, vendo meus tios e meus avós contarem histórias da família, meu orgulho deles só aumentou. Paralelo a isso, percebi que pra eu me tornar um Homem (no sentido social da palavra; não me apareçam aqui com piadinhas de cunho sexual, por favor) de verdade falta eu deixar mais o lado moleque de lado (com o perdão da repetição).

Quem me conhece sabe que tenho, sim, minhas responsabilidades e que prezo muito por tudo o que faço. Mas existem certos aspectos de minha personalidade que precisam ser alterados, melhorados. Não há como negar isso. E essa viagem serviu para que eu abrisse mais os olhos, admitisse certos erros e começasse a trabalhar para eliminá-los – ou ao menos minimizá-los.

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A viagem serviu também para tirar da minha cabeça uma suspeita que estava me preocupando: a de que eu seria um workaholic. Verdade que eu certamente me preocupo mais que o normal. Mas, se fosse um viciado, não conseguiria aproveitar os dias de descanso.

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Minha relação com a família distante é um tanto curiosa. Fico sabendo notícias de lá somente às vezes, através de telefonemas não muito freqüentes que meu pai faz e/ou recebe. Mas, quando chego lá, parece que faz apenas uma semana que estive ausente. Todos são extremamente acolhedores e sem frescuras – Cássia que o diga. A primeira coisa que meu avô me disse, depois do “Deus te abençôe”, foi “que barba é essa, Rafael?”. E, em tom de brincadeira, mandou eu tirar isso do rosto.

Nesses dias que passamos lá descobrimos que meu lado “artista” – se é que posso dizer isso de mim – tem mesmo uma boa origem. Que meu avô, meu pai e um outro irmão dele tocam violão – e muito bem, diga-se de passagem – eu já sabia. Meu pai e meu tio até fizeram algumas músicas e tal, mas não chegaram a ser profissionais. O que eu não sabia é que minha tia resolveu fazer as vezes de poeta, contando em cordel a história de Queimadas, e que outro tio meu fazia poesias para impressionar as meninas, na sua juventude. Um que ele recitou para Cássia e eu me deixou com os olhos marejados.

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Do interior, fomos para a capital, João Pessoa. Ficamos na Pousada Nego (muito boa, por sinal), bem perto da praia e de quase tudo. Inclusive de um McDonald’s e de um Bob’s. Na primeira noite lá fomos ao Bob’s, para meu profundo arrependimento. O hamburguer deles é péssimo. Até agora me pergunto como as pessoas têm coragem de comer lá. Tanto lá quanto no Mc, vimos engarrafamentos nos Drive Thrus, em determinados horários do dia. Será uma especialidade paraibana ou outras cidades também conseguem fazer essa proeza?

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Havia, também, perto da pousada, uma livraria, a Zarinha, que mantém um centro de cultura de mesmo nome (ou o centro mantém a livraria, não sei). Lá fizemos a festa – eu mais que Cássia. Ela comprou dois livros: “Alice no País das Maravilhas“, de Lewis Carroll e “Mania de perfeição“, de Anna Quindlen. Eu comprei cinco num dia e um no outro: “Mas não se matam cavalos?“, de Horace McCoy; “1933 foi um ano ruim“, de John Fante; “História das idéias dos movimentos anarquistas (vol.2: O movimento)“, de George Woodcock; “Hollywood” e “Notas de um velho safado“, de Bukowski; e, finalmente, “Renda básica de cidadania“, de Eduardo Suplicy (que, descobri agora, me venderam com desconto). Detalhe: todos os livros, exceto “Mania de perfeição”, são pockets da L&PM. Acho que foi a melhor compra que fiz numa loja física. A Zarinha, apesar de ser uma livraria pequena – se formos comparar com as mega-stores – tem um belo acervo, além de ser bem aconchegante.

Falando ainda de livros, comprei, em Queimadas, um sobre a história da cidade: “Queimadas Seu Povo Sua Terra”, de Antonio Carlos Ferreira Lopes, publicação do autor; e, em Campina Grande, “Minha querida Sputnik“, de Haruki Murakami (que está saindo em nova edição pela Alfaguara; mas a capa da edição que comprei é bem mais bonita, convenhamos).

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Nossa última noite lá foi marcada pela procura de uma pizzaria. Aliás, não pela procura, mas pelo local onde comemos uma pizza: a Lion Crepe Francês. Olhando de fora, o local parece chique demais, o tipo de lugar que não gosto de entrar. Mas como queríamos a pizza, entramos. E então descobrimos que se trata de um espaço bonito, acolhedor, com garçons gentilíssimos e bem-humorados, e uma pizza excelente.

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Como diz o ditado, tudo que é bom dura pouco. Mas os momentos não se apagam e certamente lembraremos sempre dos dias que fomos paraibanos e de tudo o que passamos juntos. E já pensamos em voltar pra lá, claro.

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