Entrevista com Sidney Garambone

Garambone, o que mais me fez ter vontade de ler o seu livro foi o título dele. A explicação para ele eu sei, que é a de que todo escritor é o Deus se sua obras, certo? Mas de onde veio o título? Foi um “lampejo”, um “repente”?

O título inicial seria “TPMs, conversas sobre cinema e vida”, mas me convenceram de que estava muito hermético. Pensando na trama, me veio a pretensiosa idéia de fazer uma analogia com o narrador, Victor Vaz, manipulador, criador, certas vezes prepotente, com a idéia que temos do divino. Ele, pois, seria Ele, com direito a conviver semanalmente com as próprias criaturas que transformara em personagens de um futuro romance.

Antes de prosseguirmos com as perguntas, diga quem é Sidney Garambone, para quem ainda não lhe conhece. De quando e onde você é? O que fez e faz até hoje?

Sou jornalista com vários anos nas costas militando em cadernos culturais, no Globo, JB e O Dia. Trabalhei também na Istoé e migrei para a televisão, onde trabalho com esporte na TV Globo. Tenho consciência de que nada sei, costumo ler mais de um livro por vez, gosto demais de Machado, Nelson, Calvino, Dostoiévski e Campos de Carvalho. Nasci no Rio em 1965. “Eu, Deus” é meu terceiro livro, porém o primeiro romance.

Quanto tempo você levou escrevendo o romance? O que foi mais difícil: construir os personagens ou fazer a escolha e os comentários dos filmes? Imagino que você teve de assistir a todos eles, ao menos uma vez, enquanto escrevia…

Cerca de um ano e pouco. O mais difícil foi construir os personagens. Porque até o batismo deles é uma experiência de rigor ímpar, já que a autocensura me boicotava. Tudo eu achava ruim. Os filmes foram dicas de amigos e paixões antigas. Vi todos mais de uma vez.

Victor Vaz, o protagonista e narrador de “Eu, Deus” lançou quatro livros. Nos três primeiros ele “era ele”. No último, não. E é ele, de novo, no livro que tem a TPM como “pano de fundo”. Você concorda com Victor quando ele diz que o escritor só é bem sucedido quando escreve sobre a sua realidade ou faz uso dela de alguma maneira em sua obra?

Concordo, pois não acredito neste distanciamento buscado e alegado por alguns. Basta ler a biografia dos monstros sagrados. As obras sempre têm alguma referência com os cenários em que viveram, momentos marcantes, perdas, alegrias, dramas. Conscientemente ou não, um livro é a soma de visões do autor.

E aquela teoria do Victor de que o mundo precisa se reunir, o que você acha dela? Você participa ou já participou de alguma reunião nos moldes da TPM? Se sim, como foi isso?

Acho que Victor convida a todos a se amarem mais. Buscando novas e velhas amizades, falando, conversando, em torno de algum interesse comum. Tiremos nosso bumbum dos sofás. Chamemos pessoas queridas, ou desconhecidas, para discutir um parágrafo de um livro, um jogo de futebol ou mesmo um filme, como em “Eu, Deus”. Eu já participei e foi com cinema. Notadamente me inspirou.

Uma pergunta que faço a todos os escritores que entrevisto: você tem lido a “nova geração” de escritores brasileiros? Se sim, qual sua opinião sobre essa “nova literatura” brasileira? Destacaria algum (ou alguns) nome(s)?

Não tanto quando eu gostaria, pois sempre me sinto em dívida com os clássicos. Mas tenho tombado com pessoas muito interessantes da nova geração. Eis algumas dicas: Luiz Ruffato, Arnaldo Bloch, Arthur Dapieve, Guilherme Fiúza, Simone Campos e Fernando Molica.

Quais são suas influências literárias? Quais os escritores que te influenciaram e continuam influenciando? Sei que é uma pergunta abrangente, mas você poderia citar alguns nomes? E mais: como e quando você começou a escrever? Fale um pouco dessa sua paixão pelos livros e pela criação.

Todo jornalista costuma ter a ilusão de ser um escritor. Levei isso muito a sério e, com o incentivo de alguns, resolvi dar a cara a tapa. Com um compromisso de evitar reproduzir ambientes de redações, pois isso seria fácil e desonesto comigo, joguei nas livrarias um livro de contos. Temendo o pior. Quem leu gostou e assim tive a certeza que era possível tentar. Como citado há pouco, minhas influências são Homero, Dostoiévski, Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Hobbes, Verissimo, Calvino e tantos outros que, se não me vieram à mente agora, ficam para uma “segunda entrevista”.

No seu blog você incentiva a leitura, sempre recomendando um livro para seus leitores. Qual o papel que a leitura (não só de obras literárias) deve ter em nossa sociedade? O que você acha que deve ser feito para que o brasileiro tenha vontade e prazer de ler?

Justiça social. Porque me envergonho de mandar um brasileiro pobre trocar uma cesta básica por um livro. Apesar da letra dos Titãs, a gente não quer só comida, mas se não tiver comida… morremos. O meu sonho é que a classe média leia melhor, porque muitas vezes é deprimente ver a lista dos mais vendidos. Uma ideia é dar livros de brindes, em vez de CDs, por exemplo.

E pra finalizar: sei que é muito cedo pra falar em próximo livro, “Eu, Deus” acabou de ser publicado, mas você já tem planos para um futuro livro? Poderia adiantar alguma coisa?

Tenho sete capítulos de um livro, batizado prematuramente de “Km 102 Leste”, onde conto a história de uma mulher que num dia banal evita ir para casa e ruma estrada afora. Mas o desafio maior é dar asas à ideia de uma trilogia, cujo segundo livro seria “Ele, Diabo”, que já está todo pronto na minha cabeça. Falta apenas o primeiro parágrafo e o que vem a seguir (risos).

* Entrevista publicada originalmente em março de 2007 no Blog Paralelos.

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