Enterrado vivo

Se fosse preciso definir “Enterrado vivo” (“Buried”, 2010) com apenas uma palavra ela certamente seria “tenso”.

Protagonizado por Ryan Reynolds, “Enterrado vivo” tem início com um homem que acorda dentro de uma caixa de madeira amordaçado e com as mãos amarradas. A princípio, ele tem apenas um isqueiro e um celular, que ouve tocar minutos depois de despertar.

É a partir daí que a ação se desenrola. Paul Conroy (Reynolds) é um motorista de caminhão que estava a trabalho no Iraque. Ele e outros funcionários de uma empresa chamada CRM, contratada pelo governo norte-americano, estavam levando mantimentos para os soldados ianques quando foram atacados. Alguns morreram, outros foram feitos reféns. Conroy foi um deles.

Os iraquianos – não se sabe ao certo se são rebeldes, terroristas ou cidadãos desesperados – pedem, como resgate, cinco milhões de dólares – número que é diminuído para um milhão, no decorrer do filme. Eles prometem libertar Conroy após o pagamento ser feito.

A partir daí, vemos Paul tentar falar com o governo americano para explicar sua situação e tentar conseguir ajuda. Com o passar do tempo, ele percebe que suas chances de sair vivo dali estão diminuindo consideravelmente, apesar das promessas de Dan Brenner, do Departamento de Estado, com quem Paul entra em contato diversas vezes.

Enquanto tenta se salvar, Paul tem que lidar também com os iraquianos, que o pressionam para conseguir o pagamento. Entre outras coisas, eles pedem para o refém gravar um vídeo com o celular, mostrando sua situação, e depois outro, mostrando o momento em que corta um de seus dedos (não chega a ser uma cena digna de “Jogos mortais”, mas é uma tomada um tanto forte).

Ainda que a intenção do roteirista, Chris Sparling, e do diretor, o espanhol Rodrigo Cortés, seja retratar, mesmo que com apenas um personagem – dois, se contarmos a colega de Paul, que é morta pelos iraquianos em uma rápida aparição -, um pouco da situação dos norte-americanos e aliados que foram feitos reféns durante a ocupação americana naquele país, “Enterrado vivo” aborda – superficialmente, é verdade – outras questões, como a do o outro lado, ou seja, a de uma nação invadida e destruída em consequência dos atentados sofridos pelos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, mesmo os iraquianos não tendo participação neles – até onde se sabe, pelo menos.

A desculpa do governo de George W. Bush para a ocupação foi a de que o Iraque teria armas de destruição em massa e poderiam utilizá-las contra os EUA. Até hoje essas armas não foram encontradas. Muito rapidamente – na verdade, há apenas uma menção – o filme cita a Blackwater, uma “companhia de segurança” norte-americana que atuou – e ainda atua – na invasão ianque ao Iraque. A Blackwater também é conhecida pela expressão “exército mercenário”, e muitas de suas ações, no mínimo controversas, são reveladas no livro “Blackwater”, de Jeremy Scahill, publicado no Brasil em 2008, pela Companhia das Letras. As primeiras páginas do livro são aterrorizantes.

Uma outra questão que “Enterrado vivo” traz, e poder-se-ia dizer que é até uma questão “lírica”, mesmo que não propositalmente, é a transitoriedade da vida. Afinal, até antes de ser alvo de ataques e ser enterrado vivo, Paul Conroy vivia uma vida que, se não era tranquila, ao menos não era tão perigosa.

Toda a ação do filme se passa no caixão. Não há outro cenário. Das pessoas com quem Paul conversa só ficamos conhecendo a voz. Não há flashbacks, não há nada. Apenas Ryan Reynolds preso dentro de um caixão. E, não obstante algumas questões técnicas que ficam em aberto – como ele consegue falar no celular, mesmo embaixo da terra?, por exemplo -, “Enterrado vivo” tem um roteiro muito bem escrito, que deixa o espectador tenso do início ao fim, e que não dá pista alguma de como a história vai terminar.

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