Ele não estava mais lá

Há algumas semanas me deu na telha que iria ler sobre política. Não notícias, crônicas, artigos. Decidi que leria algo sobre Teoria Política. No caso, livros sobre o assunto.

Por incrível que pareça, foi difícil, ao menos para mim, decidir por onde começar. Digo “por incrível que pareça” porque livros sobre política existem aos montes. Mas livros simpáticos sobre teoria política foi difícil encontrar.

Não sou lá um bom parâmetro. Sou totalmente leigo no assunto e a livraria aqui da cidade tem muitos livros, mas não há muitos sobre política. Pedi então uma ajuda ao Bruno Garschagen. Não o conheço, só havíamos trocado alguns poucos e curtos e-mails (se não me engano), mas alguma coisa me disse que ele poderia me ajudar. Mandei uma lista de 4 ou 5 livros dentre os quais selecionaria 2 ou 3 para comprar, e pedi a ele opiniões sobre as obras, caso ele as conhecesse. Bom leitor que é, Bruno me disse suas preferências. Depois das indicações dele, decidi comprar “História das Idéias Políticas“, de François Châtelet, pra começo de conversa.

Até então havia um exemplar dele na livraria aqui da cidade. Mas isso foi antes de eu realmente me decidir a comprá-lo. Melhor explicando: uma coisa é decidir comprar. Outra coisa é ir comprar. E quando eu fui, cadê o livro? Levaram.

Bom, pensei, peço em alguma livraria virtual. E não foi difícil encontrá-lo. Fiz o pedido e pouco tempo depois o recebi. Depois disso, folheei melhor um outro livro que o Bruno disse valer a pena dar uma folheada. Foi quando resolvi comprar “Introdução à Ciência Política“, de Darcy Azambuja. O livro sempre esteve lá e ninguém comprou. Por que alguém o compraria, justamente depois de eu decidir comprá-lo? Foi o que pensei, mesmo depois do ocorrido com o livro de Châtelet. Seguindo a Lei de Murphy e contrariando a máxima de que “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”, quando fui preparado para comprar o livro do Azambuja, ele não estava mais lá.

Nos sites onde costumo comprar o livro estava esgotado ou levaria semanas para ser postado. Encontrei uma loja que me deu 7 dias para entrega. Devem tê-lo em estoque, pensei. E aí fiz o pedido. Junto com ele, mais dois, para fechar o frete grátis. Dias depois recebo um email avisando que não tinham mais o livro em estoque. É mole?

Passei algumas horas maldizendo o dia em que não deixei reservado o livro na livraria daqui. Mas eis que, no último domingo, vejo o livro numa loja virtual na qual eu nunca havia comprado, com prazo de entrega bem curto e edição recente, de 2005 (o livro é de 1967).

Fiz o pedido com receio de não o terem em estoque. Como o frete não era tão caro e eu realmente só poderia pedir um livro, por conta das terríveis limitações financeiras, dei de ombros. Se não tiverem, não vou me arrepender de ter pedido nenhum outro livro junto (se bem que eu nunca me arrependo…).

A boa nova veio ontem de tarde, quando minha mãe me ligou no trabalho, avisando que o livro havia chegado. Ô beleza…

Abaixo, o trecho que me fez decidir comprar o livro de Darcy Azambuja.

Opinião é um juízo, sentimento, convicção, mas de caráter especial. Quando dizemos – o calor dilata os corpos – emitimos um juízo, é um julgamento. Quando afirmamos – o calor é bom para a saúde – também emitimos um juízo, uma convicção. Mas, o primeiro juízo ou julgamento difere do segundo, porque é um julgamento certo, demonstrável, científico, aceito por todos. O segundo não é certo, aceito por todos, ainda que possa ser verdadeiro. O primeiro é uma verdade, o segundo é uma opinião.

Do mesmo modo, se dissermos que “a monarquia é uma forma de governo”, afirmamos uma verdade, emitimos um juízo indiscutível; quando asseveramos que “a monarquia é a melhor forma de governo, emitimos um juízo pessoal, que pode ser partilhado por muitas pessoas, mas é contraditado por muitas outras, é um julgamento suscetível de controvérsia; é uma opinião, enfim. A opinião é um estado de espírito que consiste em julgar verdadeiro um fato ou uma afirmação, mas admitindo que talvez estejamos enganados. É uma convicção mais ou menos profunda, que nos leva a afirmar uma coisa e a proceder de certo modo; mas é uma convicção que não tem infalibilidade, a certeza de uma verdade científica.”

Não reflete exatamente a minha opinião, mas chega perto.

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