Duas vezes Sandra Bullock

O ano de 2009 foi no mínimo curioso para a atriz Sandra Bullock. Estrelou uma produção de enorme sucesso, a comédia-romântica “A proposta”; venceu o Oscar de Melhor Atriz pela interpretação da personagem Leigh Anne Touhy no filme “Um sonho possível”; mas também ganhou o prêmio Framboesa de Ouro de Pior Atriz, por sua participação como protagonista em outra comédia-romântica, “Maluca Paixão”.

Ao contrário da maioria dos profissionais “agraciados” com o Framboesa de Ouro, Sandra foi receber o “prêmio”. Sua atitude e sua postura bem-humorada (veja o vídeo abaixo, em inglês) fez com que eu passasse a admirá-la ainda mais. E ficasse curioso para ver o tal filme.

Acabei assistindo “Maluca paixão” bem antes de ver “Um sonho possível”, que assisti recentemente. E cheguei a duas conclusões que por certo causarão algum estranhamento a quem não gosta da atriz ou a quem julgar os filmes apenas pelos prêmios que recebeu. Vamos a elas:

1 – Sobre “Maluca paixão”: antes de qualquer coisa, é um filme engraçadíssimo, além de chegar a ser comovente a partir de certo ponto. Tem lá suas cenas absurdas, é verdade, como a tímida e retraída personagem de Sandra Bullock de repente tentar agarrar o que seria seu par romântico, interpretado pelo ator Bradley Cooper (de “Se beber, não case”), depois de se apaixonar – não menos repentinamente – por ele. Mas esse tipo de cena faz parte de um humor quase clássico no cinema norte-americano e que pode ser visto em filmes antológicos como “S.O.S – Tem um louco solto no espaço” ou “Corra que a polícia vem aí”.

Sobre o Framboesa de Ouro de Pior Atriz, achei uma injustiça, já que uma personagem como Mary Horowitz não é fácil de ser interpretada. Quem assistir ao filme vai poder ver com os próprios olhos: uma garota retraída, super inteligente, que parece ser super protegida pelos pais, que não tem vida social nem amigos. Talvez até todos nós conheçamos uma “Mary Horowitz”. Talvez alguns de nós até sejamos um pouco como ela. E só assim é que poderemos perceber que o “ridículo” de algumas de suas ações são, na verdade, um quase desespero em ser aceita pela sociedade, ou demonstrações claras de insegurança e mesmo de solidão, como quando ela dispara a falar.

Há, ainda, em “Maluca paixão”, a participação brilhante do ator Thomas Haden Church (de “Sideways – Entre umas e outras”), interpretando de forma impagável um jornalista que faz qualquer coisa para se tornar âncora de jornal. Esse personagem, aliás, é uma forma de o filme fazer uma crítica ao sensacionalismo que cada vez está mais presente na imprensa.

2 – Sobre “Um sonho possível”: na minha humilde opinião, o Oscar não foi merecido (e olha que, na noite da cerimônia, eu torci muito pela atriz e fiquei emociado ao vê-la receber a estatueta). Acho que o defeito da personagem interpretada por Sandra, e o que deveria ter impedido a Academia de premiá-la com o Oscar, é que ela não tem muita complexidade. Ora, é uma mulher rica, bem-sucedida, que resolve ajudar um rapaz negro e pobre. Há poucos momentos de grande dramaticidade em sua interpretação. Descontando algumas cenas, é quase uma personagem “sem sal”.

Mas, claro, o Oscar pode ter sido concedido por conta de ela ser uma atriz que, apesar de talentosa, muita gente ignora e até menospreza. Como o filme tem uma história bonita (baseada em fatos reais), edificante e passa uma espécie de alerta – ainda mais em tempos em que pipocam casos de polícia envolvendo atletas -, o prêmio talvez tenha sido uma forma que a Academia encontrou de coroar o trabalho de Sandra Bullock e também de chamar a atenção para uma causa nobre. Bom, é só uma especulação minha, mas pode ter fundamento.

Uma das coisas mais legais de “Um sonho possível” é o filho da personagem de Sandra, o S.J., interpretado pelo garoto Jae Head. Engraçadíssimo, ele é responsável pelos momentos mais divertidos do filme, que é muito bom, aliás. Mas, novamente na minha opinião, não é é lá tudo isso que falam dele.

Quem já assistiu aos dois, pode comentar. E quem ainda não assistiu, recomendo ambos, principalmente “Maluca paixão”.

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