Do futuro pretendido

Preciso colocar em mente que tudo o que acontece em minha vida é por culpa minha. Não foram poucas as chances que tive de dar a ela um rumo decente, mais correto e mais seguro. Desperdicei-as, e agora, reclamo.

Sinto-me cansado. Sempre correndo contra o tempo. E, na maior parte dele, estou preocupado, ansioso. Às vezes me percebo olhando, quase estático, para um lugar qualquer, alheio ao que acontece à minha volta. Nesses momentos, tento fazer uma retrospectiva das mais recentes bobagens que fiz e encontrar uma maneira de consertá-las. Mas o número de ações impensadas e imbecis é tão grande que fico cansado antes mesmo de listar todas. E assim volto à realidade: mais preocupado, mais ansioso. Sem encontrar uma mísera pista de solução.

Não sou um pobre-diabo, um pobre-coitado. Tenho uma vida razoável, e poderia dizer que sou feliz, não fossem as tais besteiras que fiz e insisto em continuar fazendo. Tenho uma boa mulher, bons amigos, uma família normal e um trabalho que, apesar de exigir muito de mim, me possibilita ter uma vida digna. Não ganho rios de dinheiro, mas posso tranquilamente viver com o que ganho.

O fato é que não quero continuar vivendo assim. Melhor dizendo: não estou contente com o rumo de meus dias. Eu não deveria estar trabalhando onde estou. Não deveria estar tão distante de casa e de meus pais, mesmo morando com eles. Não é certo ver a mulher da minha vida uma vez por semana. Há algo de podre no meu reino.

Não tenho mais os amigos todos que eu tinha. Os poucos que sobraram não sei como estão. Meus livros são acumulados em pilhas malfeitas em meu quarto; e eles, que me deram tanta vida e tanta gana de vencer, são deixados de lado, pois o dono não tem tempo para lê-los.

Sim, eu reclamo. Lamento. Não é do meu feitio fazer isso, mas ultimamente a melancolia tem se apoderado de mim, e não vejo outra alternativa, a não ser lamentar.

Não adianta nada, eu sei. É só uma maneira de, talvez, seguir adiante. De tentar aliviar um pouco o peso que carrego em meus ombros. Peso que eu mesmo tomei para mim, na forma das bobagens que fiz e tenho feito.

E o tempo vai passando, cada vez mais rápido. É com ele que mais me preocupo, com o tempo. Há anos que adio a decisão de mudar, dar mais importância a determinadas coisas e não deixar o efêmero tomar conta de minhas ações. Minha relação com o tempo é simples e paradoxal: quero aproveitar o máximo que puder. Já, agora. Mas, ao mesmo tempo, quero construir bases para ter um futuro resistente, seguro.

Sou um idiota que não sabe esperar, é isso. Alguém que perde o controle do presente e deixa o futuro pretendido cada vez mais distante. Um covarde, que sabe quais atitudes precisa tomar, mas tem medo de não conseguir sustentá-las, justificá-las e seguir adiante com elas. Alguém que precisa mudar, para melhor. E rápido, antes que seja tarde.

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