De que adiantam palavras?

Desde que meu avô materno faleceu, anos atrás, que venho tentando escrever um texto definitivo sobre a morte. Melhor dizendo: sobre o que eu acho dela.

Não tenho medo de morrer. De maneira alguma. Sei que minha hora vai chegar, e procuro não pensar nisso. Quando for a hora, paciência. Tchau e bênção.

Antes de viajar pra São Paulo, deixei um amigo (um irmão de vida) avisado: na última gaveta de minha bancada, debaixo de minhas revistas, estaria um papel com as senhas dos meus emails e logins dos computadores, e uma lista de pessoas que ele deveria avisar, caso alguma coisa acontecesse na viagem e eu não mais voltasse. Não foi pessimismo, foi precaução. Imaginem que coisa uma pessoa ligar um computador e ver, na lista de logins do Windows, o nome daquele que não mais está presente. Terrível.

Não avisei à minha mãe nem à minha namorada disso porque ambas são muito preocupadas. Se elas soubessem que eu quis prevenir alguma coisa, iriam pensar que eu estava achando que não voltaria da viagem. E isso seria um problema. Apesar de que Cássia me viu escrevendo o bilhete, e eu acho que ela sabia o que eu estava fazendo.

(Me diz depois se você lembra disso.)

Mas, ainda assim, disse à minha mãe, em tom de brincadeira, mas falando sério, que eu quero ser cremado. E que não quero velório nem chororô. É pá-puf: morreu, cremou, já era.

O acontecido de ontem com o avião da TAM – empresa pela qual viajei recentemente – me fez escrever este texto (que não é, nem de longe, o definitivo, sobre a morte). A cobertura da imprensa me impressionou. É gravíssimo o caso, e pode ser que tenha algo a ver com a crise nos aeroportos. Congonhas estava em reforma, será que fizeram algum serviço mal-acabado na pista, por conta da pressa em reabrir o aeroporto? Ou será que foi problema na aeronave? Ou será que vai sobrar pro piloto (leia-se: “erro humano”)? Perguntas que serão respondidas daqui a algum tempo, depois das investigações. Mas o que me deixou intrigado foi: a imprensa está fazendo essa grande cobertura do acidente porque ele é grave ou porque a tragédia é algo que “fascina” a todos? Não seria melhor uma cobertura mais superficial – no sentido de colocar menos imagens da tragédia, dos corpos sendo retirados, e de não dar tantos detalhes sobre os mortos?

Não bastaria divulgar o acontecido, divulgar a lista de passageiros e deixar o restante para quem realmente tem a ver com a coisa? Me perdoem os termos “acontecido” e “a coisa”, não estou minimizando o acidente, não achem isso, pelo amor de Deus. É que eu me senti muito mal ao ver algumas imagens na tevê e ao ler algumas coisas aqui na rede. Fico pensando nos parentes das vítimas, sabendo de tudo isso e, pior, vendo e revendo isso na tevê, a todo o momento.

Sinceramente, não vejo essa cobertura como uma mostra de jornalismo competente e informativo. Vejo, em certos locais e em certas matérias, um tom de sensacionalismo. Posso estar exagerando, mas essa é a minha opinião.

Mas, o que eu queria mesmo perguntar, é o seguinte: de que adiantam palavras, se estão todos mortos?

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