Acabei de saber que a Rocco publicou mais um livro do escritor francês David Foenkinos, o romance “Em caso de felicidade“.
Do autor eu li “O potencial erótico de minha mulher”, gostei muito e resenhei. Aproveito a ocasião para republicar o texto, originalmente publicado no blog Paralelos.
Quanto ao novo livro, só daqui a algum tempo.
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Lançado no fim de 2005, “O potencial erótico de minha mulher” (Rocco, 152 págs.), é um romance curioso e, talvez, original. Digo talvez porque, segundo o narrador da história, “tudo que é original, é tudo menos original”.
Não me recordo de ter lido algum livro narrado em terceira pessoa do plural. E foi dessa maneira que o francês David Foenkinos escreveu seu romance “não autobiográfico”. Por causa disso existem no livro algumas frases do tipo “o que alguns de nós temíamos ocorreu”, ou, “a falta de limpeza dos vidros, é o começo do nosso drama”. Mas não o do livro.
“O potencial erótico de minha mulher” se passa na França, no último ano do século XX, e tem início com Hector, um jovem solteiro que trabalha para o irmão e não tem objetivo algum na vida tentando o suicídio. Ele sobrevive à sua tentativa desesperada e passa seis meses em um hospital.
Hector é um viciado em coleções: selos, tíquetes de metrô, palitos de aperitivo de plástico, rolhas, abotoaduras, barulhos às cinco horas da manhã, enfim, tudo o que conseguia colecionar Hector colecionava. E este foi o motivo de tentar o suicídio.
Ele havia participado de um concurso nacional de colecionadores de botón de campanha eleitoral. Tinha como certa a vitória, pois havia encontrado um botón raríssimo. Nele estava escrito “Nixon is the best”, “datado da campanha eleitoral para as primárias republicanas de 1960”. (Em 1960 o americano Richard Nixon foi derrotado pelo democrata John Kennedy na eleição presidencial dos Estados Unidos). Chegou fácil à final do concurso, mas acabou perdendo para um sueco que possuía “um botón da campanha eleitoral para eleger a chefia do Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.
Hector sentiu-se desolado. Achava ridículo perder daquela maneira, para os Beatles. “Pela primeira vez, sentiu uma força impelindo-o a mudar, uma força que lhe permitiria romper com o processo louco da coleção”. Tentou parar de colecionar, mas foi em vão. Não conseguia. Ainda com a derrota para os Beatles o assombrando, Hector tenta se matar.
Depois dos seis meses no hospital ele consegue determinação suficiente para se livrar do vício. Passa até a freqüentar reuniões dos “colecionadores anônimos”. Era lá que os viciados em coleções se reuniam, a fim de acabar com o vício.
O protagonista era agora um homem estável, não mais colecionava objetos, tinha um negócio próspero e conhecera a mulher de sua vida. Casara-se e estava finalmente se tornando um homem feliz. Tão feliz que em alguns momentos do livro ele quase se queixava de tanta felicidade: “Hector largava a revista e, beijando a boca de Brigitte, chegava a se sentir mal de felicidade”.
Brigitte. Esse é o nome de sua esposa. “A falta de limpeza dos vidros, é o começo do nosso drama”. E é agora que tem início o verdadeiro drama de Hector. Certo dia ele assiste sua mulher lavar os vidros da casa onde moram e é tomado por uma sensação que já conhecia: igual à que sentia quando encontrava mais um objeto para colecionar. E é justamente o que acontece: Hector começa a colecionar os momentos em que Brigitte lava os vidros de casa.
E mais uma vez Hector se vê em problemas por causa de seu vício. Sua fixação em ver a mulher em tal atividade o leva a um estado de “quase-loucura”, e sua vida é colocada de ponta-cabeça em questão de um dia.
“O potencial erótico de minha mulher” é a comédia-dramática de um homem perdido que aos poucos vai se achando, graças a dois encontros: um com a morte e outro com a mulher de sua vida.
O terceiro livro de David Foenkinos (autor de quatro romances) e o primeiro a ser publicado no Brasil, é mais um lançamento do selo Safra XXI, que tem como objetivo maior lançar novos autores. O francês, que esteve no Brasil em 2005 na XII Bienal do Livro no Rio de Janeiro, estréia com o pé direito em terreno tupiniquim, com um livro recheado de humor fino e irônicas reflexões sobre a condição humana.
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