Das escolhas

O brasileiro tende a futebolizar tudo. Qualquer coisa vira motivo de torcida. As pessoas torcem por um partido, por uma pessoa, por uma chuva, sei lá. E ficam torcendo tanto, mas tanto, que às vezes (muitas vezes) se esquecem de que, se agirem, poderão conseguir o resultado desejado com maior eficácia e rapidez. Existem também casos para os quais não adianta torcida. As discussões acaloradas, futebolizadas, sobre política e religião, por exemplo, são inflamadas por gostos e ideologias pessoais. Raramente há, nas conversas sobre esses assuntos, discussões lúcidas, serenas e de bom senso.

Então, não me admira ver por aí pessoas que nada têm a ver com o assunto, que pouco sabem sobre a situação, torcendo por Israel ou pelo Hamas; sendo que, qualquer escolha de “lado”, nesse conflito, é uma escolha errada.

Afinal, ambos estão errados. Não há honra nem correção nas atitudes anteriores do Hamas – nem nas atuais, claro, mas agora estão “protegidos” com o argumento de “legítima defesa” -, muito menos nas de Israel, promovedor de constantes massacres no passado (não muito distante) e, como disse Robert Fisk, autor dos disparos que deram novo fôlego ao conflito na Faixa de Gaza no fim de 2008 (está no link mas não custa lembrar: Israel foi quem suspendeu o cessar-fogo desta vez, não o Hamas).

Além de Robert Fisk, muitos outros jornalistas estão fazendo uma cobertura bastante sóbria e sensata sobre o conflito. Um deles é Pedro Doria, que tem colocado informações assaz interessantes em seu site. Outro é Gustavo Chacra, dos blogs do Estadão. O Amálgama também tem feito – com uma ou outra ressalva – uma boa cobertura. O G1 não pára de atualizar seu conteúdo e, não obstante algumas informações que podem ser alvo de discussões, é uma boa fonte para quem quer entender e acompanhar a situação. Isso para ficar somente na cobertura nacional.

Mas, quase esqueço, o assunto é outro. Os Estados Unidos parecem assistir a tudo de uma confortável poltrona de camarote. É certo que estão em uma “missão de guerra” no Iraque, mas não seria o caso de intervirem também na Faixa de Gaza?

A pergunta soa idiota depois de saber que os EUA não se posicionaram na votação do Conselho de Segurança da ONU que pedia o cessar-fogo de ambos os lados. Vamos colocar a pergunta antes da votação, então. E vamos analisar a abstenção. E a situação dos EUA, o antiamericanismo e o antiimperialismo – as duas últimas palavras vêm sendo constantemente utilizadas de 11 de setembro de 2001 para cá. Não seria, para os EUA, interessante essa guerra? Até que ponto a paz é lucrativa para os EUA? Melhor: por que as guerras são tão lucrativas para os EUA (e não estou falando aqui em dinheiro)? Os yankees, em crise (agora, sim, estou falando em dinheiro, mas não só) há anos – com somente o estopim sendo no fim do ano passado -, não podem respirar melhor enquanto o mundo se preocupa com um conflito desses? Por que os EUA, com todo o poderio militar que possui, não já resolveu a situação entre israelenses e palestinos de uma vez por todas? Por que deixaram – talvez propositalmente – uma brecha para constantes conflitos entre esses dois povos (com a criação do estado de Israel e posterior incondicional apoio a ele)?

Não tenho as respostas para tais perguntas, e certamente elas não trarão a paz. Mas respondê-las pode ajudar a entender melhor toda a situação – não só lá, na Faixa de Gaza, e sim de todo o mundo. Nos próximos meses e anos tentarei ler o suficiente para sanar meus questionamentos.

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