Como você escolhe suas leituras?

O ditado de que “não se deve julgar um livro pela capa” – uma metáfora para não julgarmos pessoas pelas aparências – é mais que conhecido, mas imagino que nem todos o pratiquem o tempo inteiro. Eu, por exemplo, já comprei livros pela capa. Ou, pelo menos, que a capa tenha grande parte da culpa pela aquisição. Foi o que aconteceu com “Então você pensa que é humano?”, de Felipe Fernández-Armesto, que comprei pela capa (leia-se “capa” como o conjunto entre imagem e título) mas que, como tantos outros livros de minhas estantes, ainda não li.

Uma das primeiras coisas que fiz depois de entrar na faculdade foi visitar sua biblioteca. Foi lá que comecei a ler determinados autores que hoje considero fundamentais em minha “formação literária” (seja lá o que isso for), como Carlos Heitor Cony e Fernando Sabino. Foi lá, também, que “descobri” Milan Kundera e Italo Calvino. De Kundera lembro ter lido um livro de contos chamado “Risíveis amores”, porque gostei do título. O mesmo acontecendo com “As cidades invisíveis”, de Calvino.

Nos últimos meses tenho feito uma espécie de “limpa” entre meus livros, abandonando algumas coisas que muito provavelmente nunca lerei. Ou pelo menos que não lerei tão cedo. Alguns livros são descartados depois de pensar duas ou três vezes; outros são descartados de imediato, após pensar “para que comprei isso mesmo?”; e outros são descartados mas, logo em seguida, des-descartados, voltando para o aconchego de alguma prateleira.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com “Água pesada e outros contos”, de Martin Amis. Ele ia direto para a pilha dos “descartados”, que, devido a necessidade que move o homem – nesse caso, eu -, seria colocado à venda a preço de banana logo em seguida. Tirei “Água pesada” da estante, coloquei-o na pilha dos rejeitados e, meio que com remorso por estar jogando mais um Amis fora – já iria escorraçar outro, “Casa de encontros”, sem dó nem piedade -, resolvi folhear mais uma vez o livro. E então me deparei com o início do conto “A coincidência das artes”:

“- Mas isso é uma palhaçada, cara. Então você ainda não leu o meu romance?

– Não.

– Ora, mas que história é essa?

– Eu ando terrivelmente…

Do outro lado da rua, um caminhão de bombeiros recuava de marcha à ré para a sua vaga, com um grande espirro sufocado. Em redor, mil conversas perdiam o ritmo, engasgavam e em seguida, sofregamente, retomavam o impulso.
– O problema é que andei terrivelmente ocupado.

– Não foram exatamente essas as palavras que você usou da última vez que perguntei?

– Foram.

Então, quantas vezes ainda vou ter de ouvir essa desculpa?”

Esse trecho é quase que a reconstituição exata de conversas que tive com alguns amigos escritores. Por serem amigos, vou deixando a leitura de seus livros para depois, sabe-se lá por qual lógica, afinal, deveria priorizar suas obras. Talvez isso aconteça justamente por serem amigos e por deles esperar a compreensão de que estive realmente ocupado. Foi esse trecho que me fez colocar “Água pesada e outros contos” de volta na minha estante. Mas nem todos tiveram essa mesma “sorte”.

Escolho minhas leituras, no mais das vezes, depois de ser atraído por uma boa capa e de ler a sinopse da obra. Às vezes acontece de ler uma resenha e me interessar pelo livro analisado. Há ocasiões em que os critérios são quase nulos, como o que me levou a ler “Ao coração da tempestade”, de Will Eisner, tempos depois de ficar maravilhado com “Cicatrizes“, de David Small (eu queria ler outras graphic novels para saber se encontraria mais obras-primas como a de Small). Mas aceito também dicas de amigos, como quando certo jornalista me recomendou veementemente que lesse “Cadernos de João”, de Aníbal Machado (comprei mas ainda não li) e “Três tristes tigres”, de Guillermo Cabrera Infante (esse devidamente lido e resenhado).

Nos últimos tempos ando numa fase brasileira/intelecoteca/artística e me vejo às voltas com autores nacionais, obras que discutem o papel do intelectual na sociedade e reflexões sobre a importância da arte e/ou sobre a crítica de arte. Talvez isso soe um tanto pretensioso, mas vou logo esclarecendo: não entendo nada sobre os dois últimos assuntos, e é justamente por isso que tenho me interessado em ler obras que falem a respeito.

Mas e você, como você escolhe suas leituras?

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