Capital Humano

Não é fácil resumir a história de “Capital humano” (Objetiva, 368 págs), romance do jornalista e escritor americano Stephen Amidon, que foi comparado pela crítica americana ao bem sucedido “A fogueira das vaidades”, de Tom Wolfe.

A trama não gira em torno de um personagem específico, mas de vários (seis, para ser mais específico). Suas histórias são contadas em capítulos alternados que apresentam diferentes pontos de vista, bem como o estado psicológico de cada personagem frente aos mesmos fatos. Essas histórias pouco a pouco vão se encontrando e se explicando.

O romance retrata o momento em que Drew Hagel, um pai de família de classe média que sonha com a estabilidade financeira, tenta recolocar sua vida nos trilhos. Os últimos anos foram cruéis com Drew. Ele tem uma firma de imóveis, a “Hagel&Son”, herança de seu pai, que está a caminho da falência. Sua segunda mulher está prestes a dar à luz e sua filha em breve estará na faculdade. E ele precisa de capital para bancar todas essas despesas.

Drew vê sua salvação em Quint Manning, seu mais novo amigo, conseqüência de um curto namoro entre sua filha e o filho de Manning.

Proprietário de uma empresa de gerenciamento de capital, Quint vive o sonho americano. O jovem esforçado que torna-se adulto bem sucedido, com mulher e filhos exemplares, e muito dinheiro no banco. Aparentemente.

O “clã dos Manning” está caindo aos pedaços. Jamie, 17 anos, filho mais velho de Quint, é um garoto esforçado, mas não é brilhante como o pai gostaria que fosse. Por causa das cobranças e comparações, seu filho passa a ter uma relação bem camarada com o álcool.

A mulher de Quint, Carrie Manning, é mãe e esposa dedicada, mas já não tem controle sobre Jamie, nem sobre seus dois filhos mais novos, que só obedecem a babá. Com o marido trabalhando durante a maior parte do tempo e os filhos sob os cuidados de outra pessoa, Carrie não tem muito o que fazer. “Restava a questão do que fazer com seus dias. Começava a desconfiar que exaurira todos os passatempos disponíveis.” É quando ela tem a idéia de construir um cinema. Quint resolve bancar o capricho da esposa, afinal, ela precisa fazer algo.

Os problemas tomam corpo quando a empresa de Quint, a WMV, é vítima de um forte abalo financeiro.

A essa altura da história, Drew já fizera um empréstimo no banco, para aplicar todo o dinheiro nos fundos da WMV, que funciona da seguinte forma:

“Quint jogava com a volatilidade do mundo, apostando que mercados incorretamente valorizados acabariam se estabilizando. Seu fundo era ‘macroglobal’; ele investia em qualquer lugar, a qualquer hora. Em títulos, ações, mercados de câmbio, mercados futuros. Em mercados emergentes, estabelecidos, mercados que ainda nem existiam… O segredo para ganhar muito dinheiro era entrar nos mercados temporariamente irracionais antes que se estabilizassem”.

Com as más notícias na empresa, Quint se afasta ainda mais de casa. Só quando Jamie é acusado de homicídio, ele toma as rédeas da família novamente. Mas talvez seja tarde demais para agir.

Drew Hagel, ao saber da situação da WMV, e ao receber a notícia de que não terá o retorno do seu investimento tão cedo, entra em desespero. Ele não tem dinheiro para pagar o empréstimo que fizera, sua família vai crescer e ele precisa pagar a faculdade de Shannon, sua filha. É quando o destino resolve cooperar com Drew. Ele descobre uma informação que pode livrar Jamie da prisão.

Todo homem tem seu preço. E Drew tem o dele. Por outro lado, Quint tem seus princípios e não se curvará à chantagem de Drew. Mas alguém precisa pagar o alto preço que ele exige para salvar Jamie da cadeia…

Há ainda outras histórias paralelas, que indiretamente estão ligadas às famílias Hagel e Manning. Ian, um jovem perturbado, namorado de Shannon, tem participação crucial na história. Ele e seu tio, David, são os que menos têm a perder em “Capital Humano”. E são os que mais perdem.

Autran Dourado diz que “o enredo é um recurso de que se utilizam os romancistas para entretê-lo enquanto eles lhe batem a carteira”. A minha, Stephen Amidon levou. E digo que valeu a pena.

* Resenha publicada há séculos atrás, no blog Paralelos.

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