A viagem de Théo

– Théo! Você viu que horas são? THÉO!

Théo não estava dormindo de verdade. A cabeça enfiada debaixo do lençol, entregava-se à deliciosa suavidade do despertar. No momento preciso em que sua mãe entrava no quarto, seus pés já começavam a deixá-lo e ele ia poder se erguer nos ares, sem seu corpo… Que sonho incrível! E teria de parar! Quando vagava tão bem entre o sono e o dia, por quê?

– Anda, chega! – exclamou Melina Fournay. – Desta vez, você vai se levantar, senão…

– Não! – gemeu uma voz sufocada. – Sacudir o travesseiro, não!

– É sempre assim – protestou a mãe. – De tanto demorar para dormir, você acaba acordando mal. A culpa é sua também!

Théo levantou-se com dificuldade. O mais duro era passar para a posição vertical e enfrentar a leve vertigem da manhã. Um pé surgiu da cama, depois uma perna, depois Théo inteirinho, remexendo os cabelos cacheados. Ficou de pé… E cambaleou. Sua mãe conseguiu ampará-lo e sentou-se com ele na beira da cama. Suspirando, Melina examinou os livros espalhados em cima do cobertor.

Dicionário do Egito antigo, mitologia grega, Livro dos mortos tibetano… Que horrores são estes? Não é para a sua idade, Théo! Até que horas ficou acordado esta noite? – perguntou ela repreensiva.

– Hum… Não me lembro – resmungou Théo meio adormecido.

– Você fica lendo até tarde – murmurou ela franzindo as espessas sobrancelhas negras. – Vai acabar ficando doente, sabia?

Início de “A viagem de Théo“, “um romance sobre as religiões mais praticadas no mundo”, da francesa Catherine Clément. Há alguns posts, eu disse ter me interessado pelo livro ao ler justamente o seu início, na livraria daqui. Ignorando algumas questões de estilo que eu suspeito até serem falhas de tradução ou revisão, é um belíssimo início. Simples, muito simples. Mas que já diz bastante coisa sobre Théo e sua mãe. Quando vou ler o livro inteiro? Só Deus sabe.

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