A turma do fundão (do ônibus)

Voltei a trabalhar aqui na cidade hoje. Ou seja: voltei a pegar ônibus.

E justo hoje, um calor dos diabos, ele demorou de passar e, quando chegou, estava cheio. Tanto que fiquei do lado de cá da catraca, esperando o pessoal se organizar do outro lado. Mas não se organizaram e tampouco se comoviam com o fato de eu estar do lado de cá, doido para passar pro lado de lá – da catraca, que fique bem claro.

Mas abriu uma brechinha e acabei passando. Fiquei num aperto danado, mas fui para o lado de lá da catraca. O problema é que ficar em pé num ônibus lotado é sempre um problema, tanto na frente quanto no verso. No caso dos homens do sexo masculino, há dois perigos: ou fica-se quase encostado nas partes baixas traseiras de alguém – um perigo enorme, no caso de esse alguém ser mulher (corre-se o risco de apanhar), e um perigo maior ainda, se o alguém for um homem do sexo feminino (corre-se o risco de o indivíduo gostar da situação); ou fica-se postado de costas na frente de um homem do sexo masculino (graças a Deus, nunca passei por isso).

E lá estava eu, cercado de mulheres, sem ter pra onde ir. Em outros tempos, em uma outra situação e em um outro lugar, isso seria uma maravilha. Mas era um ônibus, sou noivo e esse negócio de escândalos por causa de assédio sexual virou moda de uns tempos pra cá. Eu realmente fico preocupado.

Com algum esforço, dei um jeito de me postar entre duas mulheres – ser magro tem suas vantagens. Enquanto esperava pacientemente o ponto de minha descida, olhava para fora do ônibus, vendo as coisas passar. Mas pouco depois mais gente entrou no ônibus, ninguém desceu e quem entrou queria passar pro lado (agora) de cá da catraca.

(cá da catraca – cá da catraca – cada catraca – cadacatra ca)

Se a situação já não era boa, ficou ainda pior. Resolvi verificar se o pessoal lá de trás estava cooperando, porque às vezes o pessoal do fundão não ajuda – vide as salas de aula. E aí foi que vi: além de os companheiros do fundão não se apertarem lá atrás, ainda por cima deixavam pelo menos um assento vago. Sim, um assento vago, livre, sem ninguém sentado nele.

Fico me perguntando o que leva uma pessoa em sã consciência, num ônibus lotado, não sentar em uma cadeira vaga. Certo, olhei de longe. Mas quais seriam as probabilidades de ter, sei lá, vômito no assento? Era um banco com dois lugares, e um estava preenchido. Ou seja: duvido que houvesse algo impedindo que alguém majestosamente repousasse seu rotundo traseiro naquele assento.

Enfim. Coisas que nem Freud explica.

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